Maria Avelina Fuhro Gastal
Há dois anos, logo estaríamos vivendo o último mês daquilo que entendíamos como vida normal.
Acompanhávamos notícias de Wuhan, víamos a Covid espalhando-se pela Europa, mas ainda fazíamos planos, planejávamos viagens, projetávamos como seria o nosso 2020 que só começaria em março. Não começou.
Talvez tivéssemos a falsa esperança de que o vírus não chegasse até nós, talvez negássemos a gravidade da situação por não conseguir prever como viveríamos aquela ameaça, talvez precisássemos nos despedir do que conhecíamos como vida. Mesmo com todos os indícios do que viria, vivemos como se nada fosse mudar.
Mudou. E mudou, demais. Insistíamos que iria passar. Não passou. Ainda estamos em meio a contaminações, descasos, descuidos e mortes, sempre temerosos da potência de uma nova cepa.
Acompanhamos o aumento expressivo do número de casos pelo mundo e por aqui, a quantidade alarmante de mortes, transformando em estatísticas histórias de vida. Vivenciamos tudo isso sozinhos, isolados dos afetos. Abraços, beijos, convívio transformaram-se em saudades doída.
Entramos em um processo de luto. Negamos, sentimos raiva, barganhamos a possibilidade de voltar a viver, entristecemos. A vacina nos trouxe esperança. Quem sabe tudo voltaria a ser com antes. Não voltou, mas permitiu que pudéssemos rever familiares e amigos, arriscar saídas e viagens, ainda que curtas.
Sinto como se estivesse na última etapa do luto, a aceitação. Vamos conviver com o vírus por um tempo desconhecido, aprendemos que máscaras protegem, que vacinas diminuem, e muito, a possibilidade de óbito. Preciso estar com as pessoas, escolho as oportunidades e lugares, mantenho as medidas de proteção por mim e pelos outros. Não acho que esse seja o novo normal. Não é normal pensarmos em contágio o tempo todo, mas é o possível para viver. Na solidão há arremedo de vida. Merecemos muito mais.
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