Maria Avelina Fuhro Gastal
Dezembro. Não importa a sua crença nem mesmo a total descrença, o Natal impõe-se entre nós.
Há mais de dois mil anos, o Arcanjo Gabriel anunciou à Maria o nascimento do filho de Deus. Uma estrela guia levou os Reis Magos até a manjedoura em que o menino Jesus repousava, cercado pela mãe, por José, por animais e pelo céu estrelado.
Em 2021, um outro Gabriel encanta-se por uma árvore de Natal encontrada em meio ao lixão em que ele vasculhava. Uma criança como tantas outras que busca nas sobras daquilo que descartamos a possibilidade de ganho mínimo ou de alimentação.
Sonho e encantamento desconhecem classe social ou cor da pele. A realidade aniquila ambos.
Cristãos repudiaram a estrela, deram pausa ao sinal da cruz para transformar os dedos em arminhas. Não estavam descarregadas. Matam pelo descaso, pelo preconceito, pela fome. Tudo em nome de Deus e da família. As deles, enquanto as outras vivem do lixo alheio ou “da caridade de quem os detesta”.
O Gabriel de 2021 não será notícia por muito tempo. Outras crianças estamparão a cara da desigualdade em manchetes nos jornais. Gabriel, e todas elas, farão parte das estatísticas dos mortos pela fome, pelas balas perdidas, por abordagem policial, por guerra do tráfico e de gangues rivais. Tudo longe de nossas vidinhas e consciências. Nada que atrapalhe a nossa mesa farta no Natal, e em todos os dias do ano, a troca de presentes, a insatisfação por não termos ganhado a joia, o carro, a viagem, a bolsa de grife que nos faz uma falta vital.
Descartem a árvore de Natal que está velha, não combina mais com a sua sala ou momento de vida, embalada em saco plástico. Faça uma criança feliz no Natal de 2022.
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