Maria Avelina Fuhro Gastal
A cara do Brasil está nas sinaleiras das grandes cidades, nos cartazes falando de desemprego, fome, filhos para criar; no transporte coletivo que faz de pessoas, cargas; na construção de Golden Lakes com mão de obra mal remunerada que vive em condições precárias; no desamparo de crianças vítimas de violência física, emocional e sexual; no número de feminicídios, de lares uni parentais, de gestações na adolescência; na segregação histórica de pessoas de pele preta, descendentes de escravizados, ainda hoje não libertos; na mistura do luxo com o lixo. Está na “pele alva” e na “pele alvo”; no extermínio dos povos originários, na destruição do meio ambiente. Está na opção pelo capital acima de qualquer vida humana; no lucro em dólares do agronegócio, na destruição da agricultura familiar. Está no aniquilamento da educação pública. A cara do Brasil não permite sorrir, sonhar. Sobreviver é a única possibilidade e sem nenhuma garantia.
O Governo Federal vira a cara para o Brasil. Faz do Estado, cercadinho. Alimenta-se de filé mignon e da miséria do povo. Propaga mentiras e vírus. Aniquila com a Ciência. Aposta no extermínio por armas, por milícia, por contaminação, por fome. Menospreza mulheres, pobres, pretos, homossexuais, indígenas. Enaltece o macho estúpido, violento. Age por intenção descarada, não por ignorância. Mina instituições democráticas, desqualifica estruturas técnicas de Estado, demoniza o Serviço Público, prepara a cama para deitar e rolar, estuprando o povo.
Temos sangrado demais, temos chorado pra cachorro, ano passado morremos, morremos desde 2016, vamos morrer este ano, mas ano que vem, não. As máscaras caíram antes da pandemia. Sabemos a cara de quem por anos engoliu o ódio pela construção de uma sociedade mais justa. Há arrependidos, nunca enganados. A promessa foi clara. Talvez a dose excessiva tenha assustado e uma adaptação na dosagem baste para garantir a continuidade, de forma lenta e gradual, da mesma política de manutenção de privilégios.
A cara do governo é a da morte, a da fome, a do desrespeito. A cara do Estado brasileiro quem faz somos nós. Assim como vêm, governos vão. O Brasil permanece. Carrega feridas, cicatrizes, dores silenciadas. A voz da denúncia e do basta é nossa. Mas também somos responsáveis pela permanência de silêncios e mentiras. Não escolher a cara que queremos exibir é compactuar com qualquer monstro que se pretenda dono de um país. A omissão sempre fortalece tiranos.
A nossa cara deve trazer todas as etnias, todas as classes sociais, toda a diversidade de gênero, todas as orientações sexuais ou continuaremos sendo caricatura de um país que nunca alcança o futuro.
Referências:
Pele alva, pele alvo: Emicida
Sujeito de sorte: Belchior
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