1282 + Uma


Maria Avelina Fuhro Gastal

1282 mortes por Covid no Brasil no dia 13 de janeiro de 2021. 1282+ Uma com nome, rosto, memórias, histórias compartilhadas, momentos de alegrias, de superações, de apoio mútuo, de reconhecimento de afeto e admiração entre nós.

Ontem, faleceu uma colega minha da Assembleia Legislativa por Covid. Muito querida, leal, disponível, afetiva. Mãe, avó, amiga. Fomos próximas durante todos os anos em que trabalhamos lá, mesmo que nem sempre no mesmo departamento. É uma tristeza tão diferente de todas as outras perdas. Morte tão injusta e desumana.

Cansamos. Alguns, de tantas cenas de sofrimento, de tantas histórias interrompidas; outros, de tanto alarmismo, medos infundados. Respondemos de formas diferentes, os primeiros, usando máscaras, mantendo distanciamento social, apesar de já não saber o que fazer com tantas saudades; os segundos, retomaram seu antigo normal, aglomeram, viajam, reúnem-se em bares, restaurantes, clubes e praias.

Tanto um quanto o outro grupo fizeram escolhas. Seria ótimo se elas tivessem repercussão apenas nas vidas individuais. Mas em sociedade não funciona assim. Pelo menos não deveria funcionar.

Já entendemos que, apesar do número de aumento de casos, de mortes diárias, da falta de oxigênio para aliviar o sofrimento sufocante e solitário, tudo continuará funcionando.

Quem puder, escolhe ficar em casa. Quem quiser, escolhe viver como se nada estivesse acontecendo. Quem não pode escolher, sujeita-se a trabalhar correndo riscos. Se há quem não possa escolher, as opções individuais devem preservar ao máximo o direito do outro de continuar vivo.

Haverá sempre alguém para substituir um trabalhador que tenha morrido, desempregados não nos faltam. Não há reposição para avô, avó, mãe, pai, filhos, tios, irmãos, primos, amigos.

Se a sua escolha é viver a vida, preserve o direito dos outros de continuarem vivos. Aglomere-se, mas se afaste dos vulneráveis. Explique a sua família a impossibilidade de manter-se distanciado das baladas, praias, viagens, clubes e distancie-se dos seus avós e pais.

Usar máscara sufoca? Ter o pulmão infectado pelo vírus, mais ainda. Então, quando estiver no super, na farmácia, em qualquer lugar onde haja vida além da sua, faça um sacrifício e use a máscara. Ela pode ser tirada tão logo se afaste dos outros. Extubar é muito mais difícil, nem sempre possível, às vezes só no óbito.

Sigamos com nossas escolhas. Elas fazem sentido a quem somos. Respeitemos quem não pode escolher, afinal a vida não é só o que existe ao redor de nossos umbigos.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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