Dois em um


Maria Avelina Fuhro Gastal

Não entendo esta mania que temos de compactar o tempo, tornando como únicas datas tão diversas.

Quem nasceu perto do Natal, do Dia das Crianças, ou tem aniversário perto de datas móveis como Páscoa, Dia das Mães ou dos Pais e, de tempos em tempos, se vê de aniversário em um dia que deixa de ser só seu sabe bem do que estou falando.

Minha filha mais moça é de dezembro (10). Desde que ela nasceu tenho treze dias para preparar o Natal. Até o dia 10 o tempo é dela. Sem intromissões.

Meus dois filhos têm sogras que aniversariam em maio. Às vezes, coincide com o Dia das Mães. Uso de toda a minha razoabilidade para entender que estejam com elas. Mas meus sentimentos mais primitivos anseiam por uma lasquinha do dia para mim. Por sorte, eles me dão mais do que uma lasquinha e eu passo a data imune à melancolia.

Nunca dê um só presente. Ele parece utilitário ou falta de paciência em pensar no aniversariante por duas vezes, traz sentido de obrigação, nunca de carinho.

No entanto, nenhuma dessas coincidências é mais aniquiladora do que fazer aniversário perto do Dia dos Namorados. Recaída de egocentrismo? Vou provar que não.

Sem muitos argumentos. Só tipo uma tabela. Uma tabela de medida de afetos:

aniversário próximo ao Natal: uma época em que todos amam todos, assim só falta para o aniversariante um tantinho mais de amor direcionado para ser especial;

aniversário próximo ao Dia das Crianças: todas as crianças são amadas e assim que tiver crescido, o aniversariante vai ser o único adulto a ser celebrado no Dia das Crianças;

aniversário próximo ao Dia dos Pais ou das Mães: quando crianças, os aniversariantes se acham mais especiais do que eles, quando adolescentes ou adultos, almoçam com os pais e festejam a si próprios à noite, quando passam a ter filhos nada é mais doce do que as homenagens por ser mãe (ou pai, eu acho);

aniversário próximo ao Dia dos Namorados: uma desgraça. No seu aniversário você é especial para todos que o querem bem. No Dia dos Namorados você só quer ser especial para a pessoa que é especial para você também.

Dia dos Namorados é um pacto de dois. Não cabem outros afetos. Você não quer se dividir com mais ninguém. Quer apenas estar acolhido e acolher. Reconectar a magia, a escolha, o desejo.

Se você tem ao seu lado no Dia dos Namorados alguém que faça aniversário em data próxima, escute a voz da experiência, não compactue o tempo, não misture as datas. Se um mix, as duas passam a ser nada e não há presente, por mais caro que seja, que substitua a sensação de ser especial para alguém único.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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