Maria Avelina Fuhro Gastal
Anne Frank deixou em diário um relato de sua vivência em um esconderijo durante a ocupação nazista dos Países Baixos. Publicado pelo seu pai, único sobrevivente da família ao extermínio judeu, e as anotações declaradas patrimônio da humanidade pela UNESCO.
Shahed Al Banna, adolescente brasileira residente na Faixa de Gaza, usou o celular para filmar seu depoimento, enquanto aguardava ser retirada da zona que seria bombardeada por Israel. Talvez sobreviva. Ou não.
Duas meninas. Duas jovens. Dois depoimentos de perseguições e mortes. Duas entre tantos jovens que trazem como risco sua origem.
Um amigo escreveu o texto que eu gostaria de ter escrito, ao mesmo tempo em que desejava que ele jamais precisasse ser escrito. “Perplexidade na primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023”, de José Rodrigues, publicado em seu blog Novas Voltas em Torno do Umbigo, fala da incapacidade de escrevermos sobre tanto horror, tanta dor, tanta tristeza. Paralisamos. Mas os bombardeios continuam.
Vi comentários festejando o ato terrorista do Hamas. Vociferando contra os Estados Unidos da América. Pode ser que tenham sido publicados usando algum equipamento da Apple. Esquecem que os mortos foram jovens em uma festa, sem armamentos, sem chances de defesa.
Outras postagens enalteciam a contraofensiva de Israel, pelo direito de se defender e revidar o ataque sofrido, apoiando a estratégia para eliminar o Hamas.
O povo palestino não é o Hamas. O povo serve de escudo para eles. O povo palestino vive, em sua maioria, em campos de refugiados, foram expulsos de suas casas e mortos ao se negarem a sair. E continuam sendo mortos pela justificativa de eliminar o Hamas. Extermínio de um povo que não tem o seu direito a território respeitado.
Quase oitenta anos nos separam do final da Segunda Guerra Mundial. Quantos das famílias que hoje choram seus filhos em Israel foram vítimas do Holocausto? Quantos anos mais precisarão passar para percebermos que o antissemitismo ainda é presente? E quantos para reconhecer que há xenofobia contra o povo palestino? Israel trata os palestinos como os judeus foram tratados pelos nazistas. E todos nós calamos.
Calados vamos ignorando guerras, massacres, fome. Nenhum de nós merece, se é que existe, o reino dos céus, seja ele de que religião for. O inferno com certeza existe e se espalha pelo mundo.
http://novasvoltasemtornodoumbigo.blogspot.com/2023/10/perplexidade-na-primavera-chuvosa-de.html
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