Maria Avelina Fuhro Gastal
Não vivi todas as histórias que conto, são ficção. Mesmo assim, estou nelas. Elas tomam a forma que eu escolho para narrar, transbordo na linguagem, nas personagens. Nas escolhas ecoam minhas vivências, meus conflitos, aquilo que observo e absorvo, e meus questionamentos.
Cada história traz a sua verdade.
Verdades são mosaicos construídos a partir de visões diversas. Se não são harmônicos entre si, possuem congruência própria. Na desarmonia ampla, o reflexo da complexidade da experiência individual, social e étnica
As cores, linhas e formas dos mosaicos têm características únicas. Por mais que eu me encante por um, jamais serei capaz de reproduzi-lo. Mesmo que copie o que penso ter apreendido, falharei no traçado, na junção das cores, na construção da forma. Ele não me traduziria, apenas serviria para confundir os desavisados que ignoram essências. E essa confusão esmaeceria o significado do original.
Posso trazer para o meu mosaico detalhes de um outro que não meu quando o impacto causado em mim se incorpora ao que sou. Trarei nuances, mesclarei histórias, criando outra possibilidade de construção, mas a essência permanece no original, pois só ele carrega os sentidos dados a cada minúcia.
Todas as histórias se cruzam. Nelas, cada um ocupa um lugar. Mesmo que eu perceba dor no outro, nada sei sobre o sentimento dele. Mesmo que solidária, não me pertence. Se nominá-lo, ignoro o outro e foco em mim. Calo a quem cabe o direito de falar.
Afirmar aquilo que desconheço silencia vozes, sufoca sentimentos, ignora gritos, apaga histórias.
Meu texto corre livre. Como livres devem ser todas as histórias.
Só há liberdade com ética e respeito a todas as vozes.
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