Maria Avelina Fuhro Gastal
Duas semanas desde o último texto.
Primeiro, me dei férias. De 17 a 22 de novembro, eu e duas amigas, fizemos um retiro no litoral. Caminhadas intermináveis, cafezinhos a qualquer hora, conversas relaxantes.
De volta à rotina, me vi perdida entre diversos assuntos que larguei antes mesmo de abrir o computador.
Os motivos que me fizeram desistir são diversos, mas guardam similitude. Poderia ter escrito sobre a Copa do Mundo. Além de não gostar de futebol, não entendo a regra básica de impedimento. Meu pai e irmão enlouqueceram por décadas tentando me explicar. De nada adiantou. Hoje, refiz a pergunta para o meu filho quando o gol foi anulado por impedimento.
Ainda no mesmo campo (desculpa o trocadilho ridículo), poderia escrever sobre o Neymar. Não gosto da atitude dele. Nunca gostei, antes mesmo do apoio ao inominável. Não seria justo. Ela age como tantos outros nascidos em berço de ouro e indiferentes à realidade que os cerca. Sonegam impostos, ostentam riqueza, se enxergam melhores do que qualquer um. É fácil criticar quem veio da periferia, ignorando a conduta dos que sempre viveram com privilégios.
Escrever sobre as diferenças sociais do Qatar, remeteria às mazelas sociais do nosso país. Vamos aceitando que faz parte do nosso mundo a desigualdade social. Criticamos lá o que perpetuamos aqui.
Comentar sobre a censura da Fifa às manifestações de apoio à causa LGBTQIA+, sobre a situação dos trabalhadores estrangeiros no país e sobre a forma de tratamento dado às mulheres renderia diversos textos, assim como renderia se olhássemos as mesmas questões no Brasil.
A similitude em temas tão diversos está na impossibilidade de falar sobre o Qatar sem pensar no Brasil. Por um tempo, quero poder escrever com mais leveza. Depois de quatro anos de pesadelo, merecemos um período de possibilidade de sonhar.
Para poder sonhar e acreditar que superaremos o caos, também me nego a falar sobre as atitudes golpistas dos derrotados na eleição e a conivência das polícias e do exército. Podem ser ridículos usando o celular para contatar a “Enterprise”, mas não podemos esquecer que são perigosos e operam orquestrados para abalar a ordem Constitucional.
Em meio a tantos assuntos pensados, rechaçados, abandonados, aconteceu a “Black Friday”. Passei por ela sem nenhuma compra, mas adquiri o gancho para o tema de hoje.
Se o nosso Papai Noel usa botas e roupa para o clima frio, apesar dos 40 graus que ele enfrenta aqui, se importamos uma tradição de consumo para uma sexta-feira que acontece depois do “Thanksgiving” americano, por que ignoramos a essência do Dia de Ação de Graças?
Agradecer não implica em consumir, se dá por palavras, presença, gestos e atitudes. Se não vende, não interessa. Resolvi fazer desta crônica um novo tipo de texto, crônica-agradecimento.
Não teria como agradecer por tudo e a todos, escreveria um compêndio que seria insuportável de ler. Então, estabeleci como critério o período de confinamento e de isolamento.
Obrigada, Eduardo e Melissa, por confiarem em mim para estar junto às crianças, cuidando, atendendo, acompanhando, criando laços e lembranças que perdurarão além de mim.
Obrigada, Renata, por me ler mesmo sem texto, por se fazer presente mesmo à distância, por cuidar de mim de uma forma respeitosa para que eu não me sinta frágil ou desvalida.
Obrigada, Alice e Miguel, pelas brincadeiras e risadas em meio a tanto medo, pelos abraços “de bunda” e beijos de longe que me deram força para continuar, pela possibilidade de estar com vocês na descoberta das letras, palavras, números e cálculos para a Alice, e, para o Miguel, na exploração do mundo do berço à praça, do colo à “corrida ligeiro”, do balbucio às frases.
Obrigada, grupo “Flex and Free” por terem segurado a minha mão mesmo que “on line”, pelos momentos de troca e de leveza, de colo e consolo.
Obrigada, Fátima, por teres entrado na minha vida, mesmo sem que nos conhecêssemos pessoalmente, e me ter ajudado a enxergar tudo que preciso desconstruir para me tornar o que realmente quero ser.
Obrigada, José (Comendador) pela aproximação em um tempo de distâncias.
Obrigada, Natália (Grupo Paris de Histórias) por dividir conosco tanta possibilidade de reflexão e aprendizado e por me oportunizar a convivência, através da tela, com tantas pessoas que passei a admirar e ter como amigas.
Obrigada a cada um de vocês que leu, comentou, criticou, compartilhou meus textos. Escrever me manteve viva.
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