Maria Avelina Fuhro Gastal
Letras, números, símbolos, fórmulas, fatos históricos, organização mundial. Há professores que nos ensinam a organizar cada um desses elementos e nos apresentam uma versão do mundo. Outros, nos entregam as possibilidades e nos desafiam a perceber os diversos olhares.
Tive, ao longo da vida, professores dos dois tipos. Sou igualmente grata por ter tido a oportunidade de construir ferramentas que me possibilitassem ler a realidade.
Tive, e tenho, professores que não ensinam, mas facilitam o processo de construção do conhecimento. Desorganizam verdades, questionam crenças, ignoram resultados, incentivam debates, dúvidas, divergências.
Com as letras, me apaixonei pela literatura. Com elas, me aventurei na escrita.
Com os números, organizo minhas finanças, calculo ingredientes, dispenso calculadora.
Com os símbolos, identifico ideologias, reconheço ameaças.
Com as fórmulas, interajo pouco, mas sei quanto vou pagar pela lavagem dos tapetes, considerando a metragem quadrada e o vaso que preciso comprar para que o diâmetro da boca acolha a planta sem sufocá-la.
Com os fatos históricos, desconstruo clichês, critico a narrativa centrada no homem branco, europeu. Enxergo os massacrados, os injustiçados, os esquecidos ou apagados.
Com a organização mundial, percebo minha posição no mundo, escolho minha postura frente à realidade.
Ensino/aprendizagem é um processo semelhante à dança. Se quem guia impõe o seu ritmo e habilidade, quem segue, retrai-se. Mas se a condução se dá pela confiança e reconhecimento das dificuldades, há entrega e o bailado adquire ritmo próprio e se expande, ultrapassa o quadrado dos passos e ocupa o espaço do entorno.
Sou grata a cada professor que passou pela minha vida e contribuiu para que eu não acredite em mitos salvadores, para que eu valorize a Ciência, para que eu respeite as diferenças, para que eu não normalize atrocidades e desrespeito.
Professores formam cidadãos, para o bem ou para o mal. Por sorte, aqueles que não valorizam o seu papel na construção do mundo não me deixaram marcas. Trago em mim lembranças e vivências de desafios respeitosos que me fazem querer desaprender e reaprender o tempo todo.
Jamais estaremos prontos, a menos que optemos pela ignorância e preconceito.
Por mais professores que nos auxiliem a enxergar além das narrativas tidas como verdades, e a nos construirmos como pessoas que rechacem qualquer autoritarismo e perversidade.
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