Pausa para o amor


Maria Avelina Fuhro Gastal

Em meio ao caos, ao aumento da fome, a tantas ameaças à democracia, a tanto discurso de ódio vem uma data para nos lembrar da possibilidade de amar.

Há alguns dias assisti na Netflix a um documentário intitulado “Meu amor”. Em seis episódios, retrata a vida de seis casais com mais de quarenta anos de convivência. O relato abrange o período de 12 meses da vida cotidiana deles.

Em culturas diferentes, esses seis casais enfrentam a possibilidade mais próxima de perda definitiva da parceria de uma vida, enquanto lidam com as demandas da rotina e da sobrevivência econômica.

Sem grandes emoções, sem rompantes de novidades. A vida na sua contingência e no seu ritmo. Mesmo assim, de uma ternura que nos toca.

Onde vemos rugas e flacidez, eles enxergam encantamento e beleza, onde vemos cansaço e dificuldades, eles enaltecem a força e a presença.

O nome do dia pode ser “Dia dos Namorados”. É fácil amar uma pele lisa, um corpo musculoso. É fácil amar quando o futuro é pleno de possibilidades. É fácil amar quando o encontro é programado, vestimos nossa melhor roupa, preparamos a melhor refeição, criamos um ambiente de romance. Como amar além disso e celebrar o amor ao longo dos anos, sendo sempre namorados, mesmo que às vezes não sobre tempo nem disposição para o outro?

Não é só o amor que muda ao longo do tempo. Muda, também, nossa expectativa do que seria amor. A rotina adia sonhos. As demandas diárias anestesiam desejos. O arrebatamento se esvai. Se o amor já não é uma explosão, não quer dizer que tenha terminado. Ele se acomoda em sentimentos que nos fazem lembrar a importância do outro na nossa vida.

Não tenho experiência de um casamento duradouro. Deixei de ser namorada muito antes de me separar. Isso não me faz contrária ao casamento, embora não tenha casado de novo.

Nos casais que admiro observo o exercício de parceria, cumplicidade, admiração e respeito mútuos. São cuidadosos e atenciosos. O silêncio se faz por encontro, não por falta do que dizer. A permanência se dá por opção. O afastamento não ameaça. Além do casal, há a existência do indivíduo. Não são uma só pessoa. Alternam momentos de protagonismo na relação.

É bom que haja um dia para nos lembrar que podemos ser importantes na vida de alguém e de que alguém pode ser importante na nossa vida. Se você encontrou esse alguém, celebre hoje, sem esquecer os outros trezentos e sessenta e quatro dias do ano. Sempre há um jeito de fazer valer estar juntos.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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