Maria Avelina Fuhro Gastal
Esqueça as regras, ignora a ênclise, a próclise e deixa a mesóclise para os temerosos que assombram por aí. Na concordância, busque apenas a melhor forma de dizer aquilo o que quer. Fuja do objeto indireto e vá direto ao ponto. A única regência para os verbos será guiada pelo seu desejo.
Deixa a gramática de lado, invista nas palavras. Brinque com elas, sussurre segredos, grite denúncias. Na falta de uma adequada, invente. Achimpe* se for preciso. Uma frase achimpada pode superar conflitos.
Fale certo, fale errado, apenas fale. Narre a sua história e a daqueles que o precederam. Valorize a herança, transmita aos descendentes. Todos temos o que contar. Muito temos a recontar.
Unidos pela Língua, há verdades que precisam ser reveladas. Muito foi dito pelo explorador, travestido de colonizador ou descobridor, e pouquíssimo narrado pelos explorados aqui e em África.
Hoje, Dia Mundial da Língua Portuguesa, não se deixe oprimir por não dominar as regras do idioma. Elas calam por preconceito, enquanto o acesso à educação de qualidade é negado.
As versões silenciam verdades, formulam textos e teorias que não dão voz aos perdedores, aos torturados, aos escravizados. Use a sua voz, as palavras que vierem da sua vivência, misture termos de diversas origens, as gírias que são comuns na sua linguagem. Transforme-as em testemunho, em texto, em recado.
A Língua só existe pela nossa voz. Por todas as vozes, sem classe social, sem cor de pele, sem orientação sexual. Se a voz de ideologias busca silenciar todas as outras vozes, fale mais alto, grite, fale em coro. Não cale nem se deixe calar. Não obedeça ao berro.
*Referência ao livro infantil Achimpa – texto e ilustração de Catarina Sobral
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