Maria Avelina Fuhro Gastal
Cheia, nova, minguante, crescente, sendo lua, me encanto. Já foi comparada a um pandeiro de prata, dedicada aos enamorados, dotada de força para liberar lobisomens e bruxas. Ilustra capas de livros, de discos, emoldura cartões. Mantem-se inacessível, mesmo depois de conquistada. Soberana na noite, nutre nossos sonhos, desejos e saudades.
É dito como azul, mas mistura várias tonalidades da mesma cor, quando não nos assombra vestindo-se de cinza. Além das cidades, ilumina-se com as estrelas. Nele também cabem a lua, o sol e as nuvens que vagueiam tomando formas traduzidas pela nossa possibilidade de voltar a ser crianças e imaginar duendes e unicórnios desfilando nos céus.
Sereno, revoltoso, frio, morno, acolhedor, enfurecido, límpido, opaco, é tantos em abundância e possibilidades. Refresca-nos ou nos engole. Movimenta-se para manter vidas, nas ondas e revoltas traga vidas. Desrespeitado, se vinga. Mostra-se em imensidão para alimentar nossa necessidade de explorá-lo.
Em gotas, em pingos grossos e pesados, em volume necessário ou avassalador, nos traz alívio, esperança ou destruição. Nas vidraças são lágrimas, nas ruas, inimiga, nas encostas, morte.
Flores e árvores em profusão de cores e vida, seguido de um tempo de sol escaldante e corpos expostos, que encontram refresco em dias que se tornam mais amenos, até que a pele não mais se aquece, mas arrepia-se e contrai-se para preservar o calor que já não encontra nos dias e noites.
Entramos na estação do recolhimento. As folhas esmaecem em matizes até que desnudam a árvore enquanto cobrimos nossos corpos. Elas se preparam para novo florescer. Nós buscamos a tenacidade para encontrar caminhos. A vida que pulsava fora precisa encontrar significados interiores.
Tentamos amarrar os ciclos em calendários, ponteiros de relógios, cálculos matemáticos. A natureza não se permite aprisionar. Um dia se faz noite, um raio de sol transpassa nuvens pesadas, a lua eclipsa-se, o sol esconde-se.
Se na escrita os clichês são hediondos, na vida, envolventes. Neles está o belo, o almejado, a alternância, as possibilidades, o encantamento. A natureza nos precede. Agredimos aquilo que nos permite vida. A fúria não é por vingança, mas resposta ao descaso em nós.
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