Maria Avelina Fuhro Gastal
Foi difícil sair o primeiro texto de 2022. Queria escrever algo leve, condizente com a esperança em um novo ano. Para tanto, precisei me afastar dos noticiários, amortecer raivas, ignorar negacionistas. Tarefa exaustiva considerando o aumento no número de casos de Covid.
Pensei em uma retrospectiva do meu 2021. Três doses de vacina, maior convivência com filhos e netos, possibilidade de rever sobrinhos e alguns primos e amigos. Tudo bom demais. Mas, percebi que tive efeito rebote a 2020. Tanto tempo de solidão em casa mostrou seus efeitos exatamente quando não precisava mais estar tão só. Minha concentração despencou, li muito menos do que no ano anterior, fiz muito menos cursos on line, também. Um cansaço da falta de perspectiva de uma vida próxima ao normal sugou muita energia.
Em uma conversa com a minha filha na beira da praia percebi que não conseguia estabelecer metas para 2022. Como a virada teria lua minguante, foi mais fácil fazer a lista de tudo que eu desejava que minguasse no novo ano, a peste mundial e a do Planalto estão no topo. Talvez eu só consiga projetar um futuro quando estivermos livres.
Na adolescência, reuníamos amigos para jogar bingo na casa dos meus pais. O número 22 era sempre “cantado” como “dois patinhos na lagoa”. Imagem bonita, bucólica, de paz. Quem sabe 2022 traga um pouco dessa imagem. Dois patinhos, nenhum deles está só, nadam juntos em uma lagoa, mergulham para se refrescar, deslizam na água explorando novos limites.
A cor do ano é a Very peri. Ainda não consegui decifrar se fica mais para um azul em tom de violeta ou um violeta com leve toque de azul. Não importa. Não sendo cinza ou verde e amarelo estamos no lucro. Em uma pesquisa rápida, li que a Very peri é obtida pela mistura do azul com o vermelho. Seria a união da tranquilidade, serenidade e harmonia com a paixão, energia e excitação. Mistura desafiante. Promessa de movimento e de aconchego. Que assim seja.
Quando iniciou 2021, o primeiro acesso à minha página se deu aos dezoito segundos do novo ano, em 2022, o primeiro acesso foi aos trinta e um minutos. Fico feliz. Imagino que ninguém esteve totalmente só para brindar a virada. E, ainda, meus textos fizeram companhia na primeira meia hora do ano. Obrigada por termos estado juntos. Ano passado, foram 10.179 acessos à página. Não tenho como agradecer a cada um, mas sou grata por essa companhia constante.
Ainda não vai ser por agora que vou conseguir usar o batom vermelho. Cansei das roupas de academia, dos tênis. Fiz as unhas e, dessa vez, não parei em um hospital para drenar a infecção na cutícula. Descartei o esmalte nude, pintei as unhas com um rosa forte. Buscar o que fui e o que eu desejava ser deveria ser minha meta para 2022. Ficamos muito tempo ensimesmados, isolados, agora precisamos reaprender a estar com os outros na medida do que der.
Não sabemos como será este novo ano. A única certeza que tenho é a de que é ano eleitoral. Ano que desejei por 4 anos, e vou vivê-lo com garra e esperança.
Ainda dá tempo de desejar a vocês um ano muito melhor dos que os últimos e que possamos fazer juntos a caminhada para novos tempos. Vivam 2022.
Lista de leituras 2021
1. Vestido de noiva - Nelson Rodrigues
2. Se um viajante em uma noite de inverno - Ítalo Calvino
3. A Nota Amarela - Gustavo Czekster
4. Terra sonâmbula - Mia Couto
5. Ensaio sobre a cegueira - José Saramago
6. Álbum de família - Nelson Rodrigues
7. Os sete gatinhos - Nelson Rodrigues
8. Boca de ouro - Nelson Rodrigues
9. E fomos ser gauche na vida - Lelei Teixeira
10. O Estrangeiro - Albert Camus
11. Torto Arado - Itamar Vieira Júnior
12. O alegre canto da perdiz - Paulina Chiziane
13. Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos - Zygmunt Bauman
14. Como as democracias morrem - Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
15. Caderno de memórias coloniais - Isabela Figueiredo
16. O vento assobiava nas gruas - Lídia Jorge
17. A filha do Dilúvio - Miguel da Costa Franco
18. Erros, errantes e afins - Emir Rossoni
19. Contos de Porto Alegre - Marcelo Vilas Bôas
20. Mar azul - Paloma Vidal
21. Assim foi Auschwitz - Primo Levi
22. Terra nos cabelos - Tônio Caetano
23. Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk
24. Breve como tudo - Gisela Rodriguez
25. Balada de amor ao vento - Pauline Chiziane
26. Morrer de amor - Natália Bravo
27. Pequeno espólio do mal - Luiz Mauricio Azevedo
28. Rua de mão única - Walter Benjamin
29. Mas em que mundo tu vive? José Falero
30. Bonequinha de lixo - Helena Terra
31. Lula - Volume 1 Fernando Morais
32. De amor e trevas - Amós Oz
33. Planolândia - Edwin Abbott
34. Submissão - Michel Houellebecq
35. Devoção - Guto Leite
36. O amor dos homens avulsos - Victor Heringer
37. Planolândia - Edwin Abbot
38. Bom dia, tristeza - Françoise Sagan
39. Elis e eu - João Marcelo Bôscoli
40. As inseparáveis - Simone de Beauvoir
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