Maria Avelina Fuhro Gastal
Dezembro me traz um sentido de urgência. Sempre foi assim. A situação agravou-se quando a minha filha nasceu no início de um distante dezembro. Restaram-me quatorze dias para preparar o Natal, os dez primeiros dias do mês são para pensar no aniversário dela.
Último mês do ano e a consciência das metas não atingidas, das mudanças não feitas, dos encontros não acontecidos, das oportunidades perdidas, das escolhas impensadas e das não feitas.
Uma urgência de fim irreal. Janeiro é um novo ano, mas ainda um prolongamento dos nossos dias de muito tempo. No entanto, insistimos em retrospectivas e apostamos em novas possibilidades, mesmo que em nada alteremos nossa forma de agir ou jeito de ser. O pensamento mágico sobrepõe-se à realidade. E ele nos impulsiona a apostar em um ano melhor.
Há dois anos tentamos reorganizar nossos quereres. Eles existiram, estão nos calendários já passados, na idade que acumulamos, nas rugas que apareceram, nas saudades que aprendemos a domar para não sucumbir.
Abandonamos possibilidades que, antes reais, transformaram-se em riscos. Aos poucos, vamos experimentando momentos, redescobrindo prazeres.
Penso no que escrevi ao longo do ano e percebo aquilo que deixei de escrever. No atropelo dos dias e da situação que vivemos, esqueci de brincar com as palavras. O avestruz, Hollywood, Novos velhos amigos não chegaram até vocês. Não transpus para o papel a leveza desses temas que foram construídos na minha cabeça. Na frente do computador, as injustiças, os desmandos, as atrocidades, o desrespeito gritaram e calaram amenidades.
Minha filha diz que carrego um caixote de maçã e que, a qualquer momento, subo nele, me inflamo e discurso. Escrevi a maioria dos textos em cima do caixote. Quisera não ter o que falar, nem precisar carregá-lo, mas está difícil.
Hoje, desci dele. Vou viver dezembro como ele merece ser vivido. Vou festejar o aniversário da Rê, pensar em cada um para decidir o que encomendar ao Papai Noel, embrulhar os presentes de Natal, assar um peru e reclamar do calor insuportável na cozinha, estar com o pequeno grupo familiar na noite de 24, arrumar a mala e partir para a praia com filhos, nora e netos para o Ano Novo.
E, para dar ainda mais gás a dezembro, comemorar entre o Natal e o Ano Novo o primeiro aninho do Miguel.
Em janeiro, recomeçamos, prosseguimos. Até lá, pegarei leve. O tão esperado 2022 está logo ali. Será bom iniciar um ano com esperança.
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