Programa Aresto


Maria Avelina Fuhro Gastal

O Guaíba não só é um lago, mas um lago dourado. E mais, em inglês – Golden Lake. A peça publicitária não deixa dúvidas, é um novo life style, com vista perene para o espetacular pôr do sol do Guaíba. Um bairro privativo, com infraestrutura própria completa de amenties e áreas de esportes, lazer e entretenimento cercados de segurança para uma vida à parte.

À parte já vivemos há muito tempo, deveria ser “mais à parte”. Convivemos com diferenças sociais absurdas sem nenhum constrangimento. Luxo e lixo classificam os cidadãos, cabe à segurança não deixar o lixo aproximar-se do luxo, a qualquer custo. Mas não se engane, para o luxo, eu e vocês estamos mais para entulho, se for preciso, nos descartam, mesmo que tenhamos trabalhado, produzido para aumentar a riqueza deles.

Extrapolamos o conceito de “à parte”. Meio milhão de mortos e ainda festejam e apoiam um governo que estimula o contágio, ignora a Ciência. Não é ignorância. É estratégia cumprida com êxito. Cúmplices não faltam. São todos que elegeram um apoiador da tortura. Em um país que respeita a vida, ele teria sido preso ao homenagear o Ustra na sessão de votação do impeachment de Dilma. Ignorada a gravidade daquela homenagem, abrimos caminho para o descaso com todos que morreram por ter sido feita a opção pela economia no lugar da vida. Brasileiro desesperado por trabalho, não falta. Morre um, põe outro no lugar.

O senhor que ocupa o Ministério das Comunicações propõe que olhemos o lado bom da vida, o da Economia sugere que os restos de alimentos sejam doados aos moradores de rua, a da Agricultura, que sejam doados a quem tem fome, alimentos com data de validade vencidos. Eu proponho a composição desses ideais humanitários na formulação de um programa governamental: o Aresto (Arremesso de resto). Sem nenhum contato nem risco de proximidade, sacos com restos de alimentos seriam arremessados na direção de quem teima em ter fome. Podem cair no chão ou atingir o rosto ou o corpo dos famintos, o problema não é de quem arremessa, mas de quem não tem prontidão suficiente para receber a doação.

Delivery, take away, só para o Golden Lake. Para famintos, Aresto. O gado alimenta os porcos e a cada doação, grita “mito”. Nós, que estamos entre eles, aplaudimos ou repudiamos. Depende do quanto há de humano em nós.


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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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