Maria Avelina Fuhro Gastal
Não consegui acreditar quando li. Há definição para assédio recreativo e é o mais difícil de ter “a violência identificada, pois ganha a cumplicidade do riso de quem assiste ou compartilha a imagem” (Débora Diniz e Giselle Carino).
Pandemia, show de absurdos na CPI da Covid-19, prisão no Egito do médico e “coach” gaúcho por assédio a uma trabalhadora que vendia papiro. Um assédio recreativo, já que ele se define como brincalhão.
Assédio consiste em uma perseguição inconveniente e insistente que afeta a liberdade e a dignidade de uma pessoa ou de um grupo; recreativo é um adjetivo que designa a capacidade de entreter alguém ou a si mesmo com algum tipo de divertimento. Nem mesmo na Terra plana há possibilidade de recreativo qualificar assédio. Não podemos aceitar e nem calar.
Caro “coach”, você não é brincalhão. Você é estúpido, machista, desrespeitoso. Seu título de médico não lhe garante superioridade, desça da sua prepotência e imbecilidade e não envergonhe uma classe inteira escondendo sua baixeza atrás de um diploma.
Você, “coach” e tantos outros homens, velhos, jovens têm que entender que assédio é assédio, abuso é abuso, estupro é estupro, sem atenuantes, sem desculpas. Enquanto vocês riem ou sentem prazer em ofender, tocar, violar, a vítima carrega a vergonha, a culpa, a dor como se fosse a responsável pelos atos que vocês praticam, cala, esconde uma vergonha que não deveria ser dela.
As palavras ditas, as mãos que invadem, os olhares que despem podem não marcar a pele, mas estilhaçam quem somos, tornam o nosso corpo um risco.
O risco está em todos como você, “coach”, não em nosso corpo. Não é recreativo aquilo que ofende, machuca, fere a dignidade do outro. Se não concorda, pense na sua prisão como uma possibilidade recreativa de conhecer o cárcere no Egito, se não você, alguém pode estar achando engraçado. Dói, né? Não estou rindo, mas torcendo para que você cresça e, quem sabe, possa vir a ser um “influencer” do bem ou uma pessoa melhor. Mas duvido.
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