Maria Avelina Fuhro Gastal
Idiota com “i” maiúsculo. Feliz com o reconhecimento de que não sou cúmplice do inominável, eleito para a presidência do país, que alimenta o vírus e as mortes por prazer doentio.
Estou cercada por idiotas. À distância nos apoiamos e nos cuidamos. Somos importantes uns para os outros e não queremos colocar ninguém em risco. Juntos lamentamos a morte de tantos, a falta de vacinas, a perversão presidencial e dos seus seguidores.
Entendemos a impossibilidade de alguns para permanecerem em casa. Saem para trabalhar, em transportes públicos lotados, sem a opção de adquirir máscaras mais indicadas para prevenir o contágio. A população está desassistida, exposta à doença, à fome, ao desemprego, à desesperança.
Entre nós há Idiotas raiz. Enxergam os problemas do Brasil, querem soluções para a desigualdade social, acreditam na Ciência, discutem política, valorizam a educação, buscam informações, que vão além do noticiário de televisão ou redes sociais, e leem para formar opinião e fazer escolhas. O espectro ideológico é amplo. De comum, todos sabem que defender a vida e a justiça social não é comunismo. Ninguém vai perder a casa por votar na esquerda, é mais fácil perder para o sistema que a financia. Nem toda a direita é desumana ou fascista e deixa o povo entregue à morte. Discordamos dos caminhos e meios para alcançar um país que respeite a dignidade da vida humana. Isso é democrático e civilizado.
Há, ainda, aqueles que sentem terem sido feitos de idiotas. Votaram 17 e se arrependem. De surpresa, a pandemia, mas a conduta presidencial era promessa no discurso de ódio, nos dedos em posição de arminha como símbolo de campanha política, na fuga dos debates, na apologia à tortura, na negação da ditadura militar, no desrespeito às mulheres, aos gays, aos índios, aos negros, no descaso com o meio ambiente. Ninguém foi enganado. Se há algo admirável “nele” é a coerência entre discurso e prática. Sempre escroto.
Outros são os idiotas sem opção. Temem o contágio, sabem dos riscos, estão longe de serem imunizados, mas precisam sair para garantir a próxima refeição, seja trabalhando ou buscando qualquer forma de ter um mínimo de dinheiro para o pão do dia.
Acredito que temos um número maior de idiotas do que de cúmplices. Quantidade suficiente de idiotas para nos livrarmos do monstro que nos (des) governa. Aprendemos, ao custo de um número absurdo de mortes, de aumento da desigualdade social, de um desmatamento nunca visto, que o candidato pode representar o negacionismo, a supremacia branca e masculina, a intolerância, a ameaça à democracia, a desvalorização da vida, mas só será eleito se nós dermos o voto. Não há possibilidade de nos eximirmos da culpa pelo que está acontecendo, mas há a chance de reconhecermos a nossa falha e votar com responsabilidade cívica, social e moral.
Idiotas do Brasil, não estamos sós. Temos poder para mudar a História e voltar a sentir orgulho de sermos brasileiros. A briga, agora, não deve ser entre nós, mas contra eles.
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