Subterfúgios


Maria Avelina Fuhro Gastal

Os índices não são bons. Taxa de colesterol, triglicerídeos e glicose superaram até mesmo o risco médio e colocaram você em risco iminente de doença grave ou até mesmo morte. Impossível ignorar os dados. Não lhe restam alternativas, sua escolha é entre vida ou morte.

Não é de hoje que os índices preocupam. Alguns médicos já o alertaram antes. Você tomou algumas medidas: cortou refrigerante, reservou o domingo para comer doces, ensaiou caminhadas, até matrícula em academia fez. Não perseverou. Furou dieta, abandonou o controle e rezou por um milagre. Talvez não o suficiente, ou sabe-se lá o tamanho da sua dívida com os deuses, o fato é que a coisa complicou.

Tomou-se de bravura e resolveu enfrentar a verdade. Procurou especialistas, montou estratégias, reviu cardápio, reorganizou prioridades e encarou o problema.

Alguns amigos acharam que você estava exagerando, afinal só se vive uma vez. Tentaram convencê-lo a tomar chopp em vez de água mineral, a pedir fritas no lugar de queijos e azeitonas, a trocar frutas por cheesecake e cafezinho sem açúcar por capuccino com chantilly. Você firme.

Depois de algumas semanas, junto com centímetros perdidos na circunferência abdominal, você percebeu o afastamento de alguns companheiros. Diziam que você estava exercendo influência negativa, estimulando cônjuges a exercerem pressão para mudanças na rotina. Você deixou de ser o Gordo querido e passou a ser o maldito. O golpe fatal veio da família. Você soube por um tio que a sua avó está magoada porque contava com você para degustar novas receitas. O tio não parecia contente com a sua atitude com aquela avó sempre tão prestativa. Romper com os dois, nem pensar. Você é grato a eles que sempre bancaram seus projetos.

Você analisa a situação e pondera que está no lucro, pois já quase baixou da linha do IMC de obesidade mórbida. Avalia que seu risco de morte diminuiu, enquanto o risco de não ter quem banque seus projetos futuros aumentaram. Pesa na balança (desculpa o trocadilho) e repensa estratégias.

Livre de adoecer ou morrer você não está, seus índices lembram isso a todo instante, mas conseguiu diminuir as chances de acontecer hoje, logo mais ou até amanhã. Lembra da torta de chocolate belga e saliva. A melhor é a da vó. Chutar o pau da barraca de vez seria desmoralizante. Por mais que pense, você não vê saída. Como conciliar a torta calórica e deliciosa com as taxas alarmantes de seu estado de saúde e a necessidade de uma alimentação saudável?


Na sabedoria popular, “o que os olhos não veem o coração não sente”, a solução para o seu dilema. Basta convencer a avó a cobrir toda a torta de chocolate belga com folhas de alface, verdinhas, saudáveis, não-calóricas. Além do mais sua inspiração veio do Leite e ele está liberado na sua dieta, sem moderação. Azar de quem tem restrições à lactose.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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