Maria Avelina Fuhro Gastal
Noite de Oscar e eu sem ter assistido a nenhum dos filmes indicados. Resisto a filmes na televisão. Sou daquelas chatas que não troca a tela do cinema por nada. Em tempos de pandemia, burrice, no mínimo.
Mas a cerimônia de entrega do Oscar sempre foi mais do que acompanhar a divulgação dos premiados. Antes, reuníamos na casa dos meus pais para acompanhar a transmissão, nos últimos anos, a reunião acontecia na minha casa. Filhos, sobrinhos, namorados, até mesmo os cachorros da família, reunidos na churrasqueira e na sala, dividindo comentários sobre os indicados entre hamburgers, sopas, cachorros-quentes, ou qualquer coisa que inventássemos.
Não bastasse estar sozinha para assistir, saber ainda menos do que a Glória Pires sobre os indicados, há dois meses reduzi o meu plano de TV por assinatura. Estava assistindo há uma hora quando entrou uma mensagem na tela alertando que era uma degustação, para continuar com acesso deveria ampliar meu plano. Desisti.
Sem Oscar, lembrei do Alfred. Antes tão presente na minha vida, há um ano não sabia nada dele. Me enchi de saudades, bastaria pegar o celular, mas, para que? Acho que temi constatar que, talvez, não tivesse resistido à Covid.
Silêncios e ausências têm nos causado preocupações. Afastamentos antes tolerados, ganham força de mau presságio. Queremos saber como as pessoas estão. Azar se não nos têm como indispensáveis, contanto que estejam vivas, e bem, nem que seja para continuarmos praguejando contra elas.
Depois de um ano, a repetição dos meses sem melhora da situação, nos obriga a pensar em que vida normal teremos a seguir. A que vivíamos ganha distância, quase não a reconhecemos mais como possível. Adaptação me assusta, parece uma acomodação resignada. Adequação me soa mais ativa, algo como buscar outras formas possíveis. Adaptada, aceitaria viver através de telas e janelas, saudosa de tudo aquilo que não é possível; adequada, enfrento a nova realidade e torno possíveis novas formas de estar na vida. Adaptação seria derrota, adequação, resistência.
E onde fica o Alfred nisso tudo? Deixa lá, quieto por enquanto. O espaço que ocupa na memória do meu celular é insignificante frente ao espaço que ocupa na minha memória. Talvez um dia nos reencontremos e eu volte a acessá-lo para saber a programação dos cinemas e a avaliação dos filmes, ou constate que ele deixou de existir. Não serei eu a responsável por deletá-lo. Até lá, eu que supere a minha teimosia, assista aos filmes na televisão e amplie minha assinatura de TV paga para a noite do Oscar. No dia seguinte, cancelo. Quanto à casa vazia, não me adapto, não sei como me adequar.
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