Toca do Coelhinho


Maria Avelina Fuhro Gastal

Onde fica a toca do Coelhinho da Páscoa?

Papai Noel mora na Lapônia e tem uma aldeia de férias na Serra gaúcha. E o Coelhinho?

Deve ser em um local amplo para acomodar tantos filhos. Um lugar repleto de tintas. Uma linha de criatividade, não de produção. Milhares de coelhinhos de pelo branco e macio, olhos vermelhos, com pincéis finos, grossos, angulares, planos, redondos, chatos, línguas de gato, em leque cobrindo de arcos íris, flores, estrelas, linhas, círculos, e tantas outras possibilidades, os ovos comprados na Fantástica Fábrica de Chocolate.

Tantos filhotes e tintas só podem resultar em bagunça e diversão. Os pelos brancos restam tingidos e, não raro, chocolates são saboreados antes de ganharem embalagem colorida. Coelhinhos com dor de barriga não faltam.

Meu genro acredita que a toca do Coelhinho fica em Colinas. Não sei se é informação privilegiada ou mera suposição. De qualquer forma, fiquei de orelha em pé. Minha filha e ele se casaram em Colinas. Se houve para escolha do local da cerimônia qualquer influência de uma relação mais próxima com o Coelhinho, tenho que me mudar para uma casa maior antes que nasçam milhares de netinhos.

O Coelhinho não tem trenó nem renas. Não conta com duendes ou ajudantes. Sua produção é familiar. Não terceiriza o trabalho nem faz dele uma atividade repetitiva. Aposta na expressão da criatividade e na tarefa em grupo. Não busca para si o reconhecimento. Omite sua identidade. Não tem nome específico. É um coelhinho como tantos e, portanto, pode ser qualquer um. É definido pela data. Coelhinho da Páscoa.

A Páscoa marca a ressurreição. Vida nova, passagem, tanto para judeus quanto para cristãos.

Entre as duas Páscoas em pandemia, mais de trezentas e trinta mil cruzes. Sem possibilidade de ressuscitação. Sem nomes, sem rostos, sem histórias, as cruzes transformam-se em estatísticas. Esquecemos que cada uma delas marca o fim de uma vida como a nossa e deixa uma carga de dor.

Por que é tão fácil acreditar que Jesus não morreu em vão e tão difícil de entender que, como Pilatos, continuamos lavando as mãos?



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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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