Maria Avelina Fuhro Gastal
É menina. Princesinha do papai. Bonequinha da mamãe.
Até que nos construamos como mulheres temos um longo trajeto. No caminho, obstáculos nas formas de “se” e de “quando”.
Se molecas, parecemos meninos. Se curiosas, chatas. Expansivas, exibidas. Introspectivas, sem graça.
Se vaidosas, fúteis; se despojadas, desleixadas.
Quando brabas, histéricas. Revoltadas, loucas. Caladas, covardes. Faladoras, espalhafatosas.
Se sozinhas, encalhadas. Malcasadas, acomodadas.
Quando liberadas, devassas; se contidas, frígidas.
Se apanhamos, merecemos; se batemos, descontroladas.
Quando traímos, putas. Se traídas, insuficientes.
Apagam a mulher, nos fazem princesas, bonecas, bruxas. Reduzem-nos a reprodutoras e cuidadoras.
Somos definidas pelos papéis como filhas, esposas, mães, avós.
É negado o direito de sermos mulheres. Apagam esse direito e nos identificam como mãe, dona de casa, profissional. Ser o que somos, mulheres, é esvaziado. Só podemos ser aquilo que o outro nos torna. Existimos por permissão, somos extintas na essência.
Mutiladas, nem percebemos os pedaços que nos faltam.
Somos mais do que corpo, útero, nutrição, esteio, colo, aconchego.
Somos vontades, desejo, paixões, incertezas, erros e acertos. Sermos inteiras é desafio. Se uma vida não basta, deixemos às que nos sucedem uma trilha mais limpa.
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