Maria Avelina Fuhro Gastal
Quem tem boca vai a Roma ou vaia Roma? Tanto faz, não estamos indo a lugar nenhum e há, aqui, motivos de sobra para vaias.
O sapo morre pela boca. Nós também. Tapemos as bocas e os narizes.
Pela boca, falamos. Contaminamos. Com boca a boca, salvamos; boca com boca, enlouquecemos.
Se tentam nos calar, denunciamos à boca miúda ou colocando a boca no trombone.
De boca suja, maldita, de fumo e de lobo, queremos distância. Boca santa alimenta esperanças ou é prenúncio de desgraças.
Com a boca mordemos, lambemos, saboreamos. Denunciamos, convencemos, discordamos, agredimos. Ninamos, nos declaramos, acalantamos. Rompemos, magoamos.
Da boca, enaltecemos os lábios. De mel, carnudos, sensuais, receptivos. Tememos os dentes. Os que doem, os que caem, os que nos arrancam pedaços.
Ocultas as bocas de Marias, Clarices, Joãos e Josés. As que se exibem, são assassinas.
Quero de volta os sorrisos, as conversas, os beijos encarcerados pelas máscaras. Quero sem risco de dor nem ameaça de morte. Da minha boca desnuda, cobrirei apenas os lábios com um batom vermelho.
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