Jujubas

Maria Avelina Fuhro Gastal

As duas irmãs, acomodadas no banco de trás do carro, dividiam um saco de jujubas. Não importava se era manhã, se as jujubas tirariam o apetite para o almoço, elas representavam o início de uma possibilidade de festa.

Mesmo esperando algumas horas, não implicaram uma com a outra, não brigaram, não cansaram de esperar, pior havia sido o tempo absurdo de espera até esse dia.

A picada no braço, se doeu, não fiquei sabendo. As fotos e as mensagens só falavam de felicidade e alívio.

Este fim de semana foi de alegria. Minhas tias e meu tio receberam a primeira dose da vacina contra a Covid, em Pelotas.

Em meio a um mapa do Estado coberto pela cor preta, ao colapso da rede hospitalar, ao descontrole da pandemia, saber que as pessoas que amamos, e não podemos estar juntos, começaram o processo de imunização contra a doença é jujuba nas trevas.

Ando vivendo assim. Comemoro, choro, sorrio, me emociono com momentos de bonança no caos: a vozinha da minha neta em mensagens, as fotos do meu neto olhando para o móbile, as mensagens de amigos por whatssapp, os comentários afetivos sobre os textos que publico e outras pequenas jujubas que ajudam a suportar a espera.

Estou quase uma Pollyana, uma adepta da autoajuda, pronta para “pílulas de felicidade” em frases de motivação para consumo. Quem sabe até exploro essa vertente na escrita? Poderia publicar crônicas motivacionais com títulos como “Instantes de felicidade” ou “Jujubas nas trevas”. Poderiam estar em livros, virar best sellers. Topo qualquer coisa que me afaste da realidade.

Há um ano dizíamos “vai passar”; hoje, “quando isto termina?”. No Jogo do Contente eu responderia que a cada dia que passa estamos mais perto do fim. Minha mãe morreria de orgulho ao me ver praticando esse Jogo, eu tenho certeza de que é sintoma de insanidade próxima. Decido pela jujuba mandada pelo meu filho: “nem pensa mais nisto. Segue o fluxo”. Sigamos. Todos.

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