Maria Avelina Fuhro Gastal
Mudou o ano, a Câmara de Vereadores e o prefeito. O ranço ao que já vimos pode esperar. Neste momento, quero vibrar positivo em 2021.
Primeiro fim de semana do novo ano. Calor suportável, céu azul, brisa suave. Claro que dá vontade de aglomerar, estar com amigos, familiares, na beira da praia, na piscina, no pátio, nos parques, na sala de casa. Colocar o pé na areia e o pensamento nas nuvens, deixar as ondas afagar os dedos, gelar as canelas aquecidas pelo sol. Mas não dá, ainda não. Esperemos a vacina, as seringas, a responsabilidade política, pressionando, sem causar em nós mais angústia do que já temos.
Por aqueles que ignoram a pandemia, as mortes nutro dois sentimentos: de pena por serem tão vazios e mesquinhos, de raiva por serem tão egoístas e desumanos. Deles quero distância, não só para evitar o contágio da COVID-19, mas, principalmente, porque os desprezo.
Continuamos, não por ser covardes, mas por sermos éticos e civilizados, quietinhos no nosso distanciamento repleto de saudades e desejos e vamos inventando o que é possível para nos mantermos inteiros. Estamos no segundo dia de 2021, muitos outros ainda virão antes da nossa liberdade condicional, a vantagem é que já temos know how e encontramos aspectos e força em nós, até então, adormecidos.
Por isso, ano passado revisitei Paris. Voltei os olhos para as narrativas da cidade. Descobri nos nomes das ruas personagens esquecidos da história, vi placas em construções que não tinha percebido ao passar por elas em 2014. Na Rue de Rivoli, as marcas de balas da Segunda Guerra Mundial cravadas no cimento como lembrança para que nunca esqueçamos o terror. Conheci mulheres que estiveram à frente na Revolução Francesa e têm o nome apagado na história oficial. Revisitei museus, vi o que os meus olhos não haviam enxergado, andei por outros que jamais pisei. Flanei pela Paris de Hemingway, de Vitor Hugo, estive nos lugares em que eles estiveram, busquei neles inspiração para me tornar escritora. Relaxei em Giverny, deixei que Monet tornasse minha vida mais leve, com traços não definidos, aproveitando os efeitos de luz e cor ao longo dos dias.
Estive no Egito, na Grécia, em Roma, no interior da Itália, nas matas brasileiras, nas tribos indígenas, nas expedições portuguesas, nas invasões francesas e holandesas no Brasil. Ouvi filósofos, discordei de alguns, me surpreendi com outros. Aprendi com os índios o respeito à terra, me envergonhei do legado europeu. Senti chibatadas, o chão frio e úmido das senzalas, a força de luta de um povo escravizado por sua liberdade.
Nos Estados Unidos me esforcei para entender Robert Redford. Não foi fácil, talvez tenha perdido muito do que foi dito, mas compensei a lacuna apenas olhando para ele. Com de Niro fluiu melhor, mas foi J. Lo quem me fez sentir mais segura nos diálogos. Não saberia dizer como ela diz, mas entendia tudo. Há esperança.
Terminei o ano no Oriente Médio. Preciso voltar muitas vezes, abandonar minha compreensão ocidental e branca do mundo para poder entendê-los. Avancei ao perceber a diferença entre visão religiosa muçulmana e projeto de poder muçulmano. Constatei que nós, brasileiros, temos um longo caminho para alcançar a compreensão de laicidade na organização social e política.
Afastada de tudo que me é importante, me aproximei daquilo que gosto. Passei 2020 mergulhada em História, História da Arte, Literatura, Teoria Literária, Filosofia, inglês, escrita e leitura. As aulas, lives, cursos temporários, livros, ensaios costuravam-se entre si aumentando meu repertório de mundo, de conhecimento e, por conseguinte, inevitáveis questionamentos. Deparei-me com minha branquitude, com minha ignorância, com meus preconceitos e limitações. Mas aplacaram minha solidão e me possibilitaram acreditar na possibilidade de, ao rever o mundo, enxergá-lo com outros olhos.
Costumava brincar que queria ser presa para ter tempo para ler. Nesse ano de prisão domiciliar, li muito, reli vários, aumentei muito mais a lista dos livros a ler. Aceitei essa realidade como meu destino no mundo. Também escrevi muito, percebi o quanto preciso disso. Talvez eu seja melhor com a palavra escrita do que com a falada, pelo menos dá tempo de arrumar antes de soltar para o mundo. Até me arrisquei a ministrar uma mini oficina de escrita criativa on line e, adorei.
Compensei as horas sentada com atividades físicas on line. Experimentei o sentido completo de “mente sana corpore sano”, sem prescindir das sessões semanais de psicanálise, por telefone, sem vídeo, o que me pareceu mais próximo ao divã, que tanto resisti e hoje não abro mão.
Tudo só foi possível porque instituições e profissionais se reinventaram. Precisavam se manter, mas fizeram isso com um desdobramento afetivo e acolhedor. Se estamos horrorizados com alguns comportamentos inaceitáveis na sociedade, temos que valorizar aqueles que prezam a vida humana e respeitam as pessoas e seus sofrimentos. A todos vocês, meu muito obrigada por me ajudar a passar por 2020 sem tantas sequelas.
Ainda vai levar um tempo para podermos estar juntos, então, se quiserem viver algumas dessas experiências, vou colocar aqui a lista com os lugares e profissionais que oportunizam atividades prazerosas, a distância, e os livros que li. Li, também, contos, crônicas e ensaios dispersos que não estão na listagem, mas, alguns, tenho em PDF.
Oficinas de escrita criativa:
@gogideias (Instagram)
@oficinasantasede (Instagram)
Literatura:
@studioclio (Instagram) – com o professor Luis Augusto Fischer
Teoria literária
Professor Guto Leite
@casamundi – com a professora Gabriela Silva
História da Arte
@andredorigo (Instagram)
História
@parisdehistórias (Instagram)
Inglês:
Professora Ana Petrilli
Atividade física
Pilates: Professora Ana Cristina Teixeira
@curvesmeninodeus (Instagram)
@vivaclubmaturidadeelazer (Instagram)
Filosofia:
@novo_liceu (Instagram)
Livros lidos em 2020:
Quatro Negros - Luis Augusto Fischer.
O Véu Erguido - George Eliot
Mulheres e caça às bruxas- Silvia Federici
A paixão segundo GH - Clarice Lispector
Macunaíma - Mário de Andrade
Um teto todo seu - Virgínia Woolf
Do que é feita a maçã- Amós Oz com A hora Hadad
Testamentos - Margaret Atwood
Mel e Dendê - Fátima Farias
Os cus de Judas - Antônio Antunes
Fúria - Silvana Ocampo
50 Contos Machado de Assis – selecionados por John Gledson
O Jogo da Amarelinha – Júlio Cortázar
Paris é uma festa - Hemingway
A ridícula ideia de nunca mais te ver - Rosa Montero
O Túnel - Sábato
Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
Pequeno manual antirracista - Djamila Ribeiro
A invenção de Morel - Adolf Bioy Casares
Dom Casmurro - Machado de Assis
Vila Sapo - José Falero
Casa dos Espíritos – Isabel Allende
Eichmann em Jerusalém- Um relato sobre a banalidade do mal. Hannah Arendt
Niketche - uma história de poligamia - Paulina Chiziane
A origem dos outros. Seis ensaios sobre racismo e literatura. Toni Morrison
Mulheres empilhadas- Patrícia Melo
Platão Apologia de Sócrates - Tradução de Maria Lacerda de Moura - Clássicos de bolso Ediouro Publicações.
Aura - Carlos Fuentes
Formas de voltar para casa. - Alejandro Zambria
A hora da estrela – Clarice Lispector
Laços de família – Clarice Lispector
Todas as crônicas – Clarice Lispector
A seus pés - Ana Cristina César
Adeus às armas - Ernest Hemingway
A lua vem da Ásia - Campos de Carvalho
O amor nos tempos do cólera- Gabriel Garcia Márquez
Ainda que a terra se abra- Rodrigo Tavares
Minha história - Michelle Obama
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
Sábado - Ian McEwan
Noite - Érico Verissimo
Atrás da cortina - Fernanda Mellwe
Calibã e a bruxa - Sílvia Federici
A ocupação - Julian Fuks
O avesso da pele - Jéferson Tenório
Modos inacabados de morrer - André Timm
Mônica vai jantar - Davi Boaventura
Aqui dentro - Nathália Protazio
Marrom e Amarelo - Paulo Scott
Lúcia McCartney - Rubem Fonseca
Para diminuir a febre de sentir - Dalva Maria Soarez
A vida mentirosa dos adultos - Elena Ferrante
Entre outras mil - Rochele Bagatini
Os supridores - José Falero
Lauren - Irka Barrios
Setenta - Henrique Schneider
Olhos d'água - Conceição Evaristo
Assim falou Zaratustra - Friederic Nietzsche
Cartas a Vitor Hugo - Louise Michel
Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus
O Duplo: em busca de si-mesmo - Berenice Sica Lamas
Psicografadas - coletânea várias autoras
Iniciei, larguei, retomei, não consigo embalar: Mulheres que correm com lobos
Li mais um livro, que não posso referir título e autor, pois será lançado este ano. Muito bom. Aguardem.
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