Maria Avelina Fuhro Gastal
Camila encolhe-se. Abel gesticula, levanta a voz, empina o peito. Ela identifica os sinais de perigo. Começa a chorar, em silêncio para não o irritar mais. As veias do pescoço dele incham, os olhos arregalam-se, parecem prontos para pular fora do rosto. Ela curva os ombros, cruza os braços na frente do abdômen. Protege as costelas ainda doloridas e cobertas de hematomas da última briga. Abel levanta o braço, mas o deixa cair ao lado do corpo ao mesmo tempo em que desaba no sofá. Camila paralisa. Ele acende um cigarro, traga com força, a brasa espalha-se rápida. Traga mais duas vezes em silêncio. Com a mão livre, bate com a palma bem ao seu lado no sofá. Ela entende a ordem sem palavras, senta-se para não provocar a ira. Ele procura a mão de Camila. Ela titubeia. Não sabe o quanto de pressão fazer. Ele acaricia a mão dela com a ponta dos dedos. Não fala. Respira ofegante. Ela olha para ele tentando entender a mudança. Ele continua de cabeça baixa, olhando para os dedos entrelaçados aos dela. Ela pede uma tragada. Sabe que ele não gosta de dividir o cigarro. Ele bate a cinza no pires, entrega o cigarro para ela. Os olhares se cruzam. Olhando fixamente para ele, ela traga o cigarro esperando que Abel reclame. Ele não diz nada. Ela traga mais uma vez, sopra a fumaça pelo nariz e apaga o cigarro no dorso da mão dele que prendia a dela.
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