Maria Avelina Fuhro Gastal
Considerando os últimos sete meses e meio, vivi sete dias de alento entre 31 de outubro e 7 de novembro.
No sábado, dia 31, foi o lançamento do meu segundo livro de contos “Ecos e Sussurros” como programação na Feira do Livro 2020. Toda on line. Lançar um livro em uma live foi assustador, mas topei o desafio. E não me arrependo. Tenho tido bons retornos sobre o lançamento, vários pedidos para aquisição do livro e, daqueles que já receberam, apesar da morosidade dos Correios, e já iniciaram a leitura, avaliações positivas sobre o livro. Se não foi como planejei quando há dois anos dei início a organização e escritura dos contos, foi um nocaute à sensação de tempo de vida roubado.
De 3 a 7 de novembro, aceitei o convite do meu filho mais velho para passar uns dias em uma casa isolada das demais em uma pousada na Praia do Rosa. Evitamos o feriadão, voltamos na manhã de sábado para evitar aglomerações. Cinco dias com ele, com minha nora e minha neta, antes da chegada do Miguel, é muito mais do que tivemos nos últimos meses. Não perderia essa oportunidade por nada. Porto Alegre à Praia do Rosa com apenas uma parada no caminho. Pode ser tranquilo para você, mas imagine para uma gestante de quase 32 semanas, sentada por quatro horas com um bebê que promete ser grande apertando a bexiga, e para uma criança de seis anos amarrada em uma cadeira. Começamos a brincar na saída, inventamos jogos, desenhamos, criamos histórias, lemos nuvens. O tempo de afastamento nos encheu de saudades, toda possibilidade de fazermos algo juntas virou festa. Na praia, íamos de casa para o mar e voltávamos. Sem parquinho, restaurantes, centrinho ou passeios nas cidades próximas. Escalamos pedras, fizemos trilhas, construímos castelos, catamos conchas, fugimos das ondas. Em casa, brincamos, desenhamos, viramos personagens de histórias, inventamos maquiagens e figurinos, encenamos as fantasias dela.
Na estrada de volta para Porto Alegre, soubemos da vitória de Joe Biden e Kamala Harris nas eleições para a presidência dos Estados Unidos. Não é pouco. A xenofobia, o negacionismo, o racismo, a misoginia, o machismo, a intolerância, a perversidade, a arrogância, a loucura foram derrotadas. Mas o resultado mostra o quanto há de seguidores do impensável. Tanto lá, quanto aqui. Porém, sinaliza que é possível derrotá-los.
Vivemos em um mundo onde, apesar do uso de máscaras para evitar o contágio, as máscaras humanas caíram. Estamos cercados de pessoas que pensam como Trump, que defendem Bolsonaro. É muito mais do que termos conservadorismo entre nós. É nos depararmos com fascismo, com a defesa da exploração, da perseguição, do extermínio.
Temos mais dois anos até a eleição presidencial no Brasil e, pelo menos, mais um ano de pandemia.
Podemos odiar, mas aprendemos a conviver com as máscaras que nos cobrem nariz e boca, com o distanciamento que nos impede de estarmos próximos de quem amamos, com as aulas em plataformas on line, com as lives para shows, palestras e lançamentos de livros. Aprendemos a estar de forma cautelosa, em pequenos grupos. É muito longe do que realmente queremos, mas é o que nos permite permanecermos vivos até que haja vacina ou tratamento para a Covid-19.
E em 2022, quem queremos para presidente do Brasil? Não creio que pensar dessa forma impeça a reeleição de Bolsonaro. Talvez tenhamos que firmar a convicção de que não o queremos reeleito. Se essa nos deixa longe da nossa escolha original, pelo menos pode nos aproximar da possibilidade de também aqui derrotar a xenofobia, o negacionismo, o racismo, a misoginia, o machismo, a intolerância, a perversidade, a arrogância, a loucura.
Temos um tempo precioso pela frente. Podemos avançar para a derrota dele, mesmo que seja um passo de tartaruga, ou podemos firmar posições e avançar em passos de lebre rumo ao abismo.
Vivemos um período em que estratégias são necessárias para termos um pouco daquilo que sempre valorizamos. Precisamos abrir mão da casa cheia de amigos e familiares, encontros em bares, restaurantes e de vida social como conhecíamos.
Nas próximas eleições, precisamos de estratégias, também. Reencontrarmos uma forma de diálogo, sob pena de nos livrarmos da pandemia, mas não do Bolsonaro.
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