Jogo de peteca


Maria Avelina Fuhro Gastal

Quem nunca jogou peteca? Ou, pelo menos, tentou? Pode até parecer fácil, afinal a base não é pequena, concentra a maior parte do seu peso e cabe na palma da mão. A extensão de penas dá o equilíbrio e orienta a trajetória no ar, quando arremessada. Os povos originais, muito antes da invasão portuguesa ao nosso território, jogavam peteca para se aquecerem no inverno.

Nunca jogou nem tentou? Mas a expressão “não deixar a peteca cair” você conhece. Quem nunca disse ou ouviu? Pois é, voltamos à origem e estamos nos desdobrando para manter a peteca no ar.

Não tá fácil pra ninguém. Alguns jogam sozinhos, perdem o fôlego tentando lançar e defender; outros em dupla ou grupos maiores, ainda assim, cansam. Há queixas de arremessos agressivos, desnecessários; por outro lado, há o reconhecimento da coesão para manter a peteca no ar.

O fato é que todos nós já a deixamos cair. Mais de uma vez. Às vezes, a juntamos rápido e voltamos ao jogo, em outros momentos, falta-nos o ânimo para recomeçar a partida.

Ela já caiu por medo, saudades, solidão, cansaço, preocupação, perdas, desesperança, raiva, inconformismo, exaustão.

Ficou no chão a cada desatino governamental, a cada aumento no número de contaminados e mortos pela COVID-19, no desamparo aos povos indígenas, nas labaredas que consomem nossas matas e florestas. Permaneceu lá na Páscoa sem a família, nos aniversários sem abraços, nos sepultamentos sem presença, na ausência dos amigos.

Respiramos fundo e retomamos o jogo, talvez com menos entusiasmo, mas sem aceitar a possibilidade de perder por VO. A vida pode estar suspensa, mas não acabou.

Nessa suspensão não vamos vasculhar balaios atrás de clássicos em oferta nem visitar barracas das editoras em busca de livros que ocupam nossa lista de desejos. Não estaremos na Praça, não encontraremos amigos, não nos reuniremos nos cafés para jogar conversa fora. Nossa cidade fica menos Alegre sem a Feira do Livro. Todos sabemos disso, até quem não curte ler, mas adora um evento repleto de diversidade.

Não teremos a Praça, a Feira estará nas telas. A peteca está no ar. Entrei no jogo, mas ele estará incompleto. Faltará o sorriso, o abraço, o encontro com cada um de vocês. De minha parte, manterei ela no ar por gratidão pela leitura dos meus textos e por todo estímulo que recebo nos comentários.

Bom jogo e boa Feira para todos nós. Se nada tem sido como gostaríamos, que seja o melhor possível.

Sem fila nem tempo determinado para a duração da sessão de autógrafos, tenho escrito pensando na pessoa a quem ele se dirige. Esse é o meu abraço em vocês, sem foto.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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