Maria Avelina Fuhro Gastal
Nunca foi tão fácil amar. Ou pelo menos se dizer que ama. Basta clicar no coraçãozinho ou procurar emoji que traduza algo de amor. Pronto. Amei sua postagem, seu comentário, sua foto. É a hipérbole de gostar. Gosto de dias de chuva, mas amo os de sol. Gosto de brócolis, de cenoura, de tomate. Amo chocolate, camarão, abacaxi, moranga e morango. Gosto de rotinas, de casa limpa e arrumada, de alguns seriados na televisão. Amo quebrar a rotina, arrumar malas, viajar, ver tudo bagunçado pelas visitas, uma sessão de cinema. Gosto de morar sozinha. Amo minha casa cheia.
Há também o amor embalado. Vem em forma de coração, com fitas douradas ou vermelhas. Dá até para acrescentar um cartão de mensagem pronta, basta assinar. O tamanho do amor depende de quanto você pode pagar pela mercadoria, não do que você sente. Quando sente.
No amor pasteurizado, quanto mais controlado, menos riscos. Calcula-se compatibilidades por perfil, mesmo que neles esteja mais quem gostaríamos de ser do que quem realmente somos. Se não der certo, se for insípido, azar, a culpa é do algoritmo. Parte-se para nova mentira, livre de sequelas.
Há muito amor em tudo que não é amor. Nem o dicionário dá conta do seu significado. Amor não se define, não se repete, não se iguala. É múltiplo. É particular. Não há palavras nem forma. Tem várias roupagens e destinatários. É único na particularidade da relação, universal no sentir.
Não amamos nossos pais da mesma maneira nem a nossos filhos. O amor está para todos, mas tão diferente para cada um. Não é nem mais nem menos, apenas diferente, repleto de um outro que é único.
Amor exige reciprocidade. Se não houver correspondência, que haja respeito. “Donde no puedas amar no te demores” como disse Frida Kahlo. Não te demores, não deixe que demore, não faça com que demore.
Onde cabe amor, cabe renúncia, aceitação, complacência, perdão, tolerância, presença, espaço, alegrias, tristezas, solidariedade. Cabe dois, sem a perda de ser um.
É exercício, aprendizado, erros e acertos. Em cada amor que estamos, desafios e conquistas.
Há seis anos conheço uma nova forma de amor. Construído como primeiro em minha vida. Nunca fui avó antes. Nem serei avó de outra Alice. Sou avó dela, como serei de futuros netos. Mas para cada um serei outra. E eles serão outros, amados de um outro jeito, mas ainda amor.
Dá para morrer descobrindo e construindo amores. Até lá, vou continuar gostando de uma maneira hiperbólica de muitas coisas que faço, como, experimento. Mas só às pessoas amarei na forma mais ampla, confusa, complexa, atrapalhada, intensa que só elas me fazem sentir.
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