Maria Avelina Fuhro Gastal
Domingo nunca foi unanimidade. Ódio, paixão, indiferença fazem parte dos argumentos nas discussões calorosas que temos sobre esse dia da semana. Tínhamos. Nestes dias empilhados, sem formas, diferenças ou expectativas, vamos de domingo a domingo como dá, sem ter ideia do dia em que estamos a não ser pelos boletos que continuam vencendo nas datas marcadas.
Pois hoje resolvi resgatar um certo ar de normalidade no caos. É domingo, tem sol e estamos vivos. Então, nada sério aqui. Sem pesquisa, sem taxação, sem amargura, sem desesperança.
Aposto na criatividade, na oportunidade na crise, mesmo que clichê. Clichês enquadram nossas vidas no reconhecido, um alento a tantas dúvidas.
Como minha destreza manual é a de um jacaré jogando tênis, mas minha cabeça tem a atividade de um formigueiro à espera do inverno, tenho uma incapacidade total de transformar ideias em objetos práticos. As palavras me salvam, então, através delas, tentarei dar voz a possibilidades de soluções para problemas práticos que poderão servir aos talentosos em design. Já antecipo que não exigirei direito de propriedade das ideias. Elas ocupam tanto espaço que é bom me livrar de algumas.
A primeira sugestão tem até nome, Palinete. Seria uma adaptação do cotonete, só com pontas pontiagudas e uma fina camada de algodão. Com o Palinete limparíamos todos os frisos, entranhas, curvas e rebuscados de móveis, utensílios, portas e outros mais. Para evitar acidentes, a embalagem poderia ser preta, com o desenho de um ouvido dentro de um círculo vermelho com uma linha atravessada em cima. Caberia a advertência “Pode causar surdez”. Risco baixo, consideradas as advertências nos maços de cigarro e com a vantagem de não provocar morte, câncer ou impotência.
Vidros removíveis. Facilmente retirados das janelas, recolocados após a limpeza sem que se corra o risco de virar meleca na calçada tentando alcançar a sujeira que fica no canto extremo, onde nosso braço não chega. Na mesma linha, venezianas ou persianas auto reversas, que possibilitariam limpar o lado externo delas e redes de proteção retráteis. Enquanto não tivermos substituído nossos vidros pelos removíveis, a mão não ficaria presa entre a janela e a rede e diminuiria, consideravelmente, o número de panos e esponjas que despencam na rua durante os movimentos desajeitados para a tentativa de libertação da mão e braço (sim, o braço acaba envolvido).
Inclusão de rodinhas deslizantes, com travas, na base de sofás, estantes, poltronas, geladeira, fogão, camas, cômodas ou em qualquer móvel que pese mais do que temos força, ou saco, para arrastar. Se em alguns casos teriam de ser rodas de carroça, desisto de achar solução. Não vou por problemas na cabeça em vez de me livrar deles. Além disso, designers têm as soluções. Eu trago apenas a dura realidade e suas idiossincrasias.
Para o banheiro, poucas sugestões, mas vitais. Com relação ao box, duas alternativas: ou inventam um jeito de não ficar uma linha comum entre as duas portas que correm nos trilhos, ou criam um instrumento de limpeza que entre naquele espaço. Por enquanto, adaptei uma régua de 15 centímetros. Recortei uma esponja em uma camada bem fina, colei na ponta da régua, e uso esse instrumento para limpar o espaço que, não importa para que lado se tente correr as portas, sempre resta indisponível para a limpeza. Tive, já, alguns imprevistos, superados com facas ou tesouras para liberar a esponja que se desprendeu da régua e ficou entalada entre as portas. A outra sugestão é mais um desabafo, não acredito que em pleno século XXI não exista nada melhor do que rejunte para unir os azulejos. Haja escovinha, clorofina e paciência para mantê-lo, minimamente, brancos. Se foi por reserva de mercado feita pelos fabricantes de água sanitária, eles podem relaxar. Nunca se usou tanto dela na tentativa de manter o vírus fora de nossas casas, bocas e estômagos. Superem o rejunte.
Por fim, sem querer estabelecer um padrão, afinal está mais do que provado no nosso país que há gosto para tudo, sugiro o lançamento de linhas para o lar totalmente clean. Depois de cento e cinquenta dias com olhos só para a minha casa, trocaria tudo por móveis e aparelhos eletrodomésticos sem nervuras, reentrâncias, curvas, buracos, frestas, frisos ou qualquer merda que junte pó. Quanto à cor, aquela que acolhesse a sujeira sem denunciá-la.
Bom Fantástico para quem ainda suporta e uma semana de menos horrores e absurdos para todos.
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