Francisco

Maria Avelina Fuhro Gastal

Em 2013, conheci o Vaticano.

Ali, renunciei à religião, renasci cristã. Mármore, exuberância, opulência, ouro cospem na pobreza, na fome, no sofrimento. Sufocam a empatia e a solidariedade. Constroem e mantêm um mundo de desiguais.

Em Cristo reconheço a inquietação, a luta por justiça social, o compromisso com a igualdade e o respeito às diferenças.

Não aceito como liderança ninguém que estimule o ódio, que ataque os desvalidos, que faça do cargo que ocupa um bálsamo para ocultar a ganância. Que dê voz a promessas vazias, que faça do discurso instrumento de cooptação, enquanto as atitudes ferem os valores essenciais de reconhecimento da dor e do sofrimento do outro.

Francisco fez do papado um encontro da doutrina e da fé com a realidade opressora e desigual de um mundo tão cruel. Além de qualquer posição religiosa, mostrou-se um homem com extremo respeito aos que dele discordavam. Acima de qualquer religião, crença, dogma, ideologia esteve ao lado dos que sofrem, dos perseguidos, dos exilados, dos excluídos.

Despojado de pompas, cobriu-se de ternura e humildade. Fez do título um aliado para a superação de tabus e conservadorismo. Trouxe a Igreja Católica para um mundo onde não é a vontade de Deus que determina destinos.

Francisco nos deixou na Pasquetta. Chamada de “Lunedi dell’Angelo” (Segunda-feira do Anjo”, em referência ao aparecimento do anjo no sepulcro anunciando a ressurreição de Jesus. Em muitos países da Europa é um feriado que comemora o renascimento da vida, o desabrochar das flores na primavera, a esperança de novos tempos.

Na vida e na morte, Francisco enalteceu o belo pela união, pelo acolhimento, pelo diálogo, pela certeza da possibilidade de um mundo mais harmônico e justo.

Os católicos perderam o Papa, nós perdemos um homem que lembrava a todos o significado da vida para além de qualquer crença.

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