Descobertas


Maria Avelina Fuhro Gastal


Escrevi esta crônica em 2020 para o livro “Marias e Clarice”.
O mundo reabriu. Já não é o mesmo e o que vemos nos assusta.
Se o medo hoje é outro, o compromisso de enfrentá-lo ainda se faz libertador.
Vamos, três gerações de mulheres, em direção ao local de onde nossos ancestrais partiram.
A vida é feita de retornos, histórias, avanços e planos. Sigamos.


Por Paris, decido flanar. Ninguém atrasa meu passo, meu olhar distraído. No ritmo do meu encantamento descubro becos, ruelas, jardins, História em pedras, portões, janelas, cimento e calçadas. Piso com respeito a quem por elas passou ou nelas perdeu a vida para lutar por ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
Em Giverny, repouso nos jardins. Desligo das horas, permito que elas passeiem no movimento de luz e sombra traçado pelo sol no meu corpo. Aspiro odores, capturo imagens para traduzi-las em palavras que ainda não conheço. Anoto as que me ocorrem com a certeza de que não são suficientes.

No Vaticano, renuncio à religião, renasço cristã. Mármore, exuberância, opulência, ouro cospem na pobreza, na fome, no sofrimento. Sufocam a empatia e a solidariedade. Constroem e mantêm um mundo de desiguais. A raiva me impede de continuar.
Por Nova York, flanar não existe. Caminho no ritmo imposto pela cidade que acolhe a quem a ela se submete. Trago pressa no andar. Um buscar incessante. Meu olhar percorre minúcias. Descubro detalhes. Meus passos me afastam do que é capital e se fixam na vida das ruas laterais, nas vozes de crianças em parques e recreios escolares, no andar mais lento de quem não se deixou sugar.

Providence me devolve a paz. Meus pés encontram no mar sem fúria a carícia necessária para o repouso, enquanto o sol alimenta meu corpo para novos mergulhos.

Revisito lugares com uma única companhia. Fui e voltei só.

Encontro perto de mim aquilo que não me permitia ver. Sentir. Desisto. Me desnudo. Aceito o olhar, o toque, o beijo. Não sou mais eu, apenas. Passo a ser dois.

Antes do mundo fechar, antes do toque trazer a morte, antes da solidão cercar-se de isolamento, o medo já me encarcerava. Exercito meu pensamento para que seja o libertador de mim quando tudo passar.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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