Maria Avelina Fuhro Gastal
Eu devia ter cinco, seis anos no máximo. Já estávamos em Pelotas há alguns dias para celebrar o Natal com a família.
Em uma tarde saímos com a tia Nonô (sempre ela) para ir até a costureira. Íamos pelas ruas, a pé, cantando músicas de Natal. Não lembro quem mais estava conosco, provavelmente meu irmão e minhas primas que regulam de idade comigo.
Começamos a cantar “Anoiteceu” * e eu acho que foi ali que percebi o lado melancólico do Natal. Senti uma tristeza estranha a uma criança por me dar conta que nem sempre o Papai Noel vem.
À época, provavelmente, pensei que a felicidade estava nos presentes ao pé da árvore de Natal e que para algumas crianças não haveria nenhum.
Com o tempo a felicidade ganhou novo significado e a impossibilidade dela se fazer presente ficou mais real.
Natal é uma data intensa, independente da nossa fé ou religião. No Ano Novo vestimos a capa da esperança, da alegria, da crença do novo, daquilo que virá. Olhamos para o futuro e para os nossos sonhos e desejos. No Natal, mergulhamos no passado.
Essa intensidade nos traz todas as ausências, todos os rompimentos, todos os vazios que preenchemos com a rotina ao longo do ano.
A intensidade também traz dualidade. Nenhuma data evoca tanto o amor, a união, o afeto. Lidamos com o que perdemos ao mesmo tempo que valorizamos o que temos. Mesmo que sozinhos, podemos buscar na natureza toda a graciosidade que nos reconforte e encontrar no belo um elixir para superar, mesmo que por breve momento, toda a tristeza que nos cerca.
Apesar de vivenciar todos esses sentimentos contraditórios, eu gosto do Natal.
Gosto de preparar a casa para receber quem eu amo, de cozinhar com capricho, de colocar à mesa minha melhor louça e cuidar dos detalhes na toalha, guardanapos e acessórios, de tentar decorar pratos, de abraçar cada um agradecendo a presença deles na minha vida.
Também gosto do sentimento de fraternidade e união que se instala na maioria das pessoas e da possibilidade de dizer aos meus amigos e leitores o quanto eles são importantes para mim.
Felicidade não é presente nem tão pouco uma constante. Com um pouquinho de desprendimento conseguimos alcançar momentos que nos fazem felizes.
Desejo que o próximo Natal seja um desses momentos para vocês.
* Anoiteceu
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim, felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim, felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
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