Maria Avelina Fuhro Gastal
Vinte de novembro de 2024. Feriado nacional. Um feriado tardio.
Quatro séculos e meio depois da chegada ao Brasil dos primeiros africanos escravizados, quase um século e meio depois da abolição da escravatura, o Estado brasileiro reconhece como feriado nacional o Dia da Consciência Negra, celebrada na data de morte de Zumbi dos Palmares.
Feriado laico. Não celebra nenhuma data religiosa, nenhuma santa ou santo milagreiro.
Feriado de reconhecimento. Tem como data o dia da morte de Zumbi dos Palmares que lutou, e derrotou diversas vezes, contra expedições que atacaram o Quilombo dos Palmares, espaço de resistência e liberdade para pessoas escravizadas.
Feriado pela construção social da data. A data não foi cantada e celebrada nos livros de histórias curriculares. Nasceu nos anos 70 pela mobilização de jovens estudantes negros do Rio Grande do Sul que formavam o Grupo Palmares. Em 2003, a data foi reconhecida por lei Federal (Governo Lula), em 2011, foi oficializada como data nacional (Governo Dilma) e, em 2023, tornada feriado nacional (Governo Lula).
Assim como Zumbi, há anos diversas pessoas e grupos de formação da Consciência Negra em nosso país vêm construindo a relevância da data e seu simbolismo não só para o povo negro, mas para a história da nossa sociedade. Assim como Zumbi, muitos sucumbiram antes de ver a data no calendário oficial da Nação. Morreram por fome, por falta de oportunidades, por miséria, por bala perdida.
Nós, brancos, pensados como cidadãos de primeira classe, acrescidos dos cidadãos ditos do bem, aceitamos todas as datas comemorativas oficiais. Aproveitamos os feriados, dormimos até mais tarde, viajamos, cantamos o Hino, hasteamos a Bandeira, montamos piquetes, comungamos sem jamais questionar a arbitrariedade dos atos heroicos e os massacres cometidos por eles. Mas feriado pelo Dia da Consciência Negra é demais para uma sociedade que nos últimos anos mostrou-se defensora de uma supremacia branca, masculina, rica, homofóbica e preconceituosa.
Tempos difíceis. Tempos de enfrentamento. Tempos de mostrar a cara e com ela ter desmascarada a perversidade. Mas, ainda assim, tempos de ver crescer e serem reconhecidas datas comemorativas à diversidade étnica, cultural, sexual.
Somos muito mais do que o país que insistimos, por séculos, em mostrar. No negado, no apagado, no não reconhecido, no calado, no massacrado, no torturado, no perseguido, no ameaçado está a verdadeira história do Brasil. Descortinar a verdade é construir possibilidades mais justas e igualitárias de futuro.
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