Roda das crianças


Maria Avelina Fuhro Gastal

Se silenciarmos os ruídos e as buzinas; se afastarmos as agressões e ofensas; se nos permitirmos explorar a nossa energia vital; se liberarmos nossa essência, conseguimos dar as mãos e, em uma brincadeira de roda, encontrar a criança que fomos e reencontrar todas as crianças de nossas vidas.

Não podemos cantar “Se a canoa virar”. Eduardo não se conforma por deixar amigos no fundo do mar.

Se a música escolhida falar de um galo, Alessandra interpreta a angústia pelo destino do bichinho com um sonoro “COITADO DO MEU GALO!!!!!”.

Não precisamos ensinar a brincadeira ou a cantiga para o Miguel, pois como ele sempre diz “Eu me aprendo sozinho”.

Se a roda desandar porque o Pedro Henrique tropeçou, não dá para consolá-lo dizendo não ter sido de propósito, ele vai chorar e espernear tentando nos convencer que foi de propósito sim, que ele fez sem querer.

Fernanda, por ser “minja”, resolve a situação com toda a calma do mundo.

Alice só quer brincar “de manhã”. Não hoje, mas “de manhã” a qualquer hora do dia, manhã, tarde ou noite, desde que seja amanhã.

Renata tenta organizar o caos. Melhor ouvir as orientações dela, antes de que ela nos considere “pegpis” ou “peguipis”. Não importa como se escreve, garanto que é ofensa grave, quase mortal. Mas logo supera e sai rodopiando pelo espaço.

Essas crianças se encontram com a minha que queria ser professora ou balconista. Bem menos criativa e ambiciosa do que a criança do meu irmão que queria ser índio ou Presidente.

Nascidas nos anos 50,60,70,80,90 e depois do ano 2000, todas têm a mesma idade quando buscam conchinhas na praia, empinam pandorgas, embalam balanços, rolam no chão, fazem gols em campos imaginários, se emocionam com as histórias do Bambi, da “Baca Cacida” (Bela Adormecida) e com as fadinhas Fauna, Flora e Primavera. Se encontram no abraço aninhado, no olhar de amor, no sorriso do reencontro, na certeza da presença.

Ser criança é ter o mundo para desbravar. Permanecer com a criança em si é não deixar de acreditar na vida.


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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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