O lugar mais distante no mundo


Maria Avelina Fuhro Gastal

Por 24 horas, estive no lugar mais distante no mundo.

Não importa se você está em Porto Alegre, Londres, Ushuaia, Tauranga, Viamão ou qualquer vilarejo onde as botas de Judas estejam, o lugar mais distante no mundo é sempre o mesmo.

A distância não é medida em milhas ou quilômetros, mas em centímetros, quiçá um metro.

Basta que um ponto específico de seu glúteo, que chamarei de Nemo, imagine-se uma ilha vulcânica no meio do Pacífico e resolva entrar em erupção.

Nemo arde, revolta-se, e lança lava vulcânica em todas as direções. A que se dirige ao Norte, atinge o dorso, a escápula, o trapézio, o pescoço e morre em pontadas na cabeça; ao Sul, não poupa o posterior da coxa, os isquiotibiais, invade a virilha, escorre pela panturrilha e morre na ponta dos dedos dos pés. De Norte a Sul, tudo dói, de Leste a Oeste, os músculos se contraem por temerem ser atingidos.

Não bastasse essa conjunção de fatores, a força gravitacional resolve se fazer presente em toda a sua intensidade. Tudo cai. Toalhas, tampas de garrafas, almofadas, talheres, todos os objetos possíveis se sentem atraídos e se jogam ao chão.

Entre mão e chão há uma distância absurda. Para chegar nele, precisei de conexões para descer, escalas eram impossíveis, precisava de um tempo maior em cada etapa da descida. Na subida, usava escalas pois já conhecia o trajeto possível, mas não indolor.

Elegância, nem pensar. Além dos movimentos lamentáveis, em poses nada charmosas, adotei o estilo saúva. Duas bolsas de água quente, acondicionadas entre a calcinha e a legging, em temperatura a ponto de provocar queimaduras, aquecidas com regularidade, foram meu modelito Farroupilha no feriado do dia 20.

Mesmo tendo o frio intenso desaparecido, liguei o lençol térmico no morno e, assim, dormi quase a noite toda, só acordando para me virar ou respirar. Muito tranquilo. E drogas. Relaxante muscular, anti-inflamatório, analgésico, muita reza e xingamento.

Sábado acordei bem. Até aula de Jazz fiz. Não posso dizer que tenha sido minha aula mais graciosa. Domingo caminhei. Hoje dancei, caminhei e fiz pilates. Tudo em ordem, mas mantive o lençol térmico na cama e as bolsas de água quente à mão. O anti-inflamatório acabou. Oremos.

Nunca tive paciência para pescar, mas estou com sérias intenções de comprar vara e anzol. Agora que conheço o lugar mais distante no mundo, preciso de meios para me aproximar dele sem perder a compostura.

Em caso de reincidência, passarei a assinar os textos pelo codinome Tanajura.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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