Maria Avelina Fuhro Gastal
Dizem que se não mudarmos nossa forma de estar no mundo, teremos diversas pandemias. Além das futuras, não sabemos até quando a atual durará, nem quantos ondas ainda teremos que surfar.
Já que não parece que o jeito de consumirmos ou nos relacionarmos com o universo vá sofrer grandes alterações, considerando a forma como inúmeros teimam em não usar máscaras ou em não provocar aglomerações, pensei que nos resta a opção de estarmos melhor preparados para as próximas quarentenas.
Meu kit básico parte das faltas na experiência atual. Em primeiro lugar, manterei estoque de refil de etiquetador. Ando com síndrome de abstinência. Cada coisinha que organizo fica incompleta sem a etiqueta com moldura em letra Bold, negrito. Estou poupando ao máximo o restinho de refil que tenho. Vá que apareça uma urgência. Não sei bem o que caracterizaria uma emergência “etiquetatória”, mas, quando acontecer, quero estar preparada.
Caixas organizadoras. Várias. Diversos tamanhos. Com e sem tampa. Nas cores que combinem com as que já possuo. Gente, é impressionante como tudo pode ser colocado nelas. Os armários ficam lindos, fáceis de limpar, funcionais. Imagina se em cada caixa tiver a etiqueta correspondente. Paraíso.
Imprescindível formas, panelas, frigideiras antiaderentes. Tenho várias, mas sempre falta exatamente a do tamanho que preciso. Apesar das minhas unhas e mãos estarem um horror, usar bombril sempre agrava a situação, ainda mais que não desisto até não restar um cantinho sem brilho nos utensílios nem um cantinho sem sangrar nos dedos.
Tinta para cabelo. Já nem me importa a cor. Vai do louro Marilyn, passa pelo vermelho intenso e vai até o preto azulado. Qualquer coisa que esconda os grisalhos. Posso ir testando e arrasar no final da quarentena. Quem sabe até um mix de cores, tipo já nem sei mais quem sou.
Penso, também, que providenciarei artefatos de faxina e limpeza. Tem dado muito trabalho o processo de quarentena deles até o uso. O último que recebi, um rodo com esponja vertical, haste regulável, perfeito para cantos, costas de móveis e piso embaixo de sofás, veio da China. Resultado, ainda não usei. Primeiro borrifei álcool no pacote e deixei quatro dias no sol, depois abri o papelão, álcool no plástico que envolvia o rodo e mais sol. Choveu. O tempo foi estendido. Eu evitando de passar por perto. Desde ontem, embalagem no processo de bronzeamento. Amanhã, retiro o plástico, mas não vou poder usar ainda. Falta o processo de eliminação do vírus no próprio artefato. Sabe-se lá de onde virá o próximo vírus, então melhor me antecipar.
O item fundamental do meu kit precisa ser aceito por alguns como pacto. Ao menor sinal de uma pandemia, seja na China, em Madagascar, na Amazônia ou em Canguçu, todos nós que moramos sozinhos iniciamos uma pré-quarentena. Tomamos banho com álcool, desinfetamos nossas casas e carros, abastecemos nossas despensas com alimentos não-perecíveis. Quando estivermos isolados de todos, protegendo quem amamos ou sendo protegidos por eles, estaremos em condições de nos visitarmos, sem risco de contaminação, e passarmos juntos por momentos de saudades. Sem abraços, mas acompanhados.
Quem topa?
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