Crônica pipoca


Maria Avelina Fuhro Gastal


Perdoem-me os grandes cronistas e os professores que tentam me guiar para dominar a arte de escrever uma boa crônica, mas, hoje, inventei uma nova classificação e vou pipocar assuntos aleatórios.

Se me prendesse ao cotidiano, reclamaria da insanidade do mês de dezembro. Parece que tudo que procrastinamos por 11 meses resolvemos dar conta em um mês que consegue ser mais curto que fevereiro, apesar dos seus 31 dias. Se ninguém aguenta mais dezembro, muito menos suporta textos falando sobre sorrisos, encontros, confraternizações, compras, amigos secretos que precisam caber em uma agenda encurtada pelas festas e atolada de reuniões de avaliação e planejamento.

Não bastasse tudo isso, os termômetros enlouqueceram e nós estamos derretendo. Não vale uma crônica. Mais do que o calor me incomoda essa gente que permanece plena. Cabelos soltos sem ficarem empapados de suor, maquiagem parelha, nada escorrida, rímel intacto nos cílios, roupa impecável, às vezes até com um blazer para compor o visual. Não é justo alguns virem com ar condicionado acoplado, enquanto outros transpiram até para respirar. Meus cabelos grudam no pescoço, a maquiagem escorre pelas bochechas, o rímel me transforma um uma versão panda e minha roupa cola no corpo e, para piorar, quando sento deixo uma marca úmida no acento. Transpirar na bunda não é justo.

É fácil ser rançosa em dezembro, ainda mais com um calor infernal, apesar de ser o mês que deveríamos estar cheios de amor para distribuir e com muita gratidão no coração. Vocês não merecem ter que viver este mês e ainda ter que ler sobre ele.

Então, pipoco.

Ontem assisti, pela televisão, ao show do Paul McCartney no Maracanã. Eu havia comprado ingresso para o show em Brasília, mas não fui. O motivo daria mais uma lauda de ranço. Sintetizando, absurdo o valor das passagens aéreas. Ponto, parei aqui a reclamação. Volto ao show. Que espetáculo.

Não vou falar da performance do Paul que aos 81 anos nos mostra que, se estamos vivos, é para viver e não para reclamar das rugas, das dores nas juntas ou das mudanças nos costumes e na sociedade.

Fiquei encantada com a diversidade etária do público. Estavam ali pessoas que viram o início dos Beatles, casais que se conheceram, se apaixonaram, trocaram o primeiro beijo ao som dos “rapazes de Liverpool”, homens e mulheres sozinhos emocionados e reencontrando a sua juventude ao cantar as músicas, adultos que nasceram após a dissolução da banda, jovens e crianças que conhecem o Paul, mas, provavelmente, sabem dos Beatles pelo amor dos pais ou avós que ainda hoje ouvem e cantam as músicas deles.

Olhando aquela mistura de vivências, experiências, significado daquele momento percebi que a vida é muito disso. Não precisamos limitar nossa convivência e afetos às pessoas da mesma faixa etária. Se “o novo sempre vem”, ele também traz em si o passado transformado. Estar aqui, é ser presente. No presente somos o resultado de nossas escolhas. Envelhecer é processo. O velho que seremos é escolha e, ninguém, além de nós mesmos é responsável por ela.

Sejamos um pouco pipoca, saltitando, pulando entre grupos heterogêneos, fazendo de tudo para não ser o milho que queima sem estourar.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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