Maria Avelina Fuhro Gastal
Foi assim, em um piscar de olhos sou aquela que detém a memória da família.
Mas em mim habitam tempos diferentes. Neles compacto vivências e lembranças e convivem a menina, a jovem, a adulta e a sexagenária.
Estranha a dinâmica do tempo. Por períodos sentimos se arrastar, mas, quando percebemos, essa permanência que parecia não ter fim ocupa uma memória distante.
Tecemos uma rede de tempos longos que cabem no tamanho de uma das tramas da rede. Vamos agrupando-os. Mas não permanecem apenas como memórias. Ocupam o presente e nos fazem reunir em um só tempo toda a nossa história.
Posso ser menina e avó brincando com a Alice. Nos trejeitos e sorrisos dela trago para a brincadeira meus filhos crianças e reconheço a mãe que olhava para eles com encanto e temor pelo futuro. Tenho em um só momento cinco, trinta, sessenta anos. Na convivência desses tempos encontro a harmonia que me faz tão bem.
Reencontro, por vezes, a menina, a adolescente, a mulher que descobre vaidades e se vê arriscando batom, sombra, rímel, cremes, encarando espelhos sem temer a imagem que tem devolvida.
Por muito tempo temi a passagem dos anos. Talvez por medo da morte. Hoje percebo que o meu prazer em viver é muito maior do que esse temor. Quero aos setenta reviver amores e descobertas quando minha neta estiver se apaixonando. Estar no meu primeiro beijo quando ela estiver no dela.
A cada dia posso viver muitos.
Há tanto para aprender, tanto para tentar, muito para errar.
O tempo perdido é aquele que temos pela frente e insistimos em repetir o passado ou chorar por ele.
Eu quero um hoje, repleto de ontens. Nele serei o que quiser e saberei estar viva.
Morrerei criança.
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