Maria Avelina Fuhro Gastal
Para 31 de março, sempre.
Hoje vou usar preto.
Não preciso ter sido torturada para me solidarizar com os que foram.
Não preciso ter sido presa sem julgamento para me solidarizar com os que foram.
Não preciso ter perdido filh@, pai, marido, mãe, amig@, esposa, colega, vizinho, conhecid@ para imaginar a dor dos que perderam.
Hoje vou usar preto.
Não preciso ser comunista para acreditar que houve golpe.
Não preciso ser comunista para acreditar que vivemos uma ditadura militar.
Não preciso ser comunista para saber que a Constituição foi desrespeitada.
Hoje vou usar preto.
Se você votou no Bolsonaro, o problema é seu.
Se você confunde esquerda com totalitário, o problema é seu.
Se você ainda acredita que vivemos a ameaça comunista, o problema é seu.
Mas se você apoia a comemoração ao golpe de 64, o problema é nosso.
Se você acha que a tortura foi merecida, o problema é nosso.
Se você deseja a volta a uma ditadura, o problema é nosso.
Hoje vou usar preto.
Para que nunca mais nossa bandeira seja manchada de vermelho.
Para que nunca mais aquele vermelho seja do sangue dos que pensam diferente.
Hoje vou usar preto.
Para que o verde e amarelo da bandeira seja nosso.
Para que o desrespeito à dor dos outros não vença.
Hoje vou usar preto.
Para que eu e você possamos:
usar a cor que quisermos,
ter o direito de defendermos o que acreditamos,
amar quem quisermos,
viver como escolhermos.
Hoje vou usar preto.
Mas não porque estou de luto.
Hoje vou usar preto.
Porque, de alguma forma, ainda luto.
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