Maria Avelina Fuhro Gastal
No último domingo de julho, apesar de na tela do celular indicar neblina, saí para a minha caminhada sob um sol gostoso.
Dobrei à direita na Avenida Praia de Belas e, logo a seguir, à esquerda na Avenida Ipiranga em direção à orla. Ainda estava sob o sol, mas na quadra seguinte, o imenso edifício na esquina da Avenida Borges de Medeiros parecia estar suspenso no ar. Envolto em uma névoa, flutuava, enquanto sua fachada envidraçada refletia rasgos de sol, abrindo espaço entre a densa neblina.
Quanto mais me aproximava da orla, menos via o que sabia estar lá. Vislumbrava contornos, adivinhava espaços que trazia incorporados à memória daquele caminho tantas vezes percorrido.
Nem sempre precisamos enxergar para ver o mundo. Ele está em nós e percebemos sua presença quando, sem enxergar, trilhamos trajetos povoando-os com nossa memória.
Pode parecer uma saída fácil escolher a visão como o primeiro episódio da série “Dos pequenos grandes encantamentos”. Só parece.
Somos visuais. Incorporamos lugares, pessoas, objetos pela visão. Desde que abrimos os olhos ao acordar até fechá-los para dormir, enxergamos tudo o que está a nossa volta, mesmo quando não retêm nossa atenção.
Para nós que enxergamos, esse sentido faz parte do cotidiano e, como tudo que é rotina, passamos a tratá-lo como trivial e passamos a enxergar sem ver.
Ignoramos o broto da planta, o mosaico colorido de uma calçada formado pelos raios de sol nos resquícios da chuva, as imagens sugestivas oferecidas pelos troncos e galhos de árvores. Ao deixar de ver, perdemos a chance de apreciar e de dar asas à imaginação.
Em cada mês, em cada dia, a cada esquina, em qualquer nuvem há sempre a possibilidade de ver com olhos curiosos que não aceitam apenas a regra imposta. Procuram a beleza, a diferença, o inusitado daquilo que parece banal.
Clique aqui para seguir esta escritora
Pageviews desde agosto de 2020: 280058
Site desenvolvido pela Editora Metamorfose