Maria Avelina Fuhro Gastal
Não espero de você nada além. Só assim posso ser feliz com o que recebo. Não pense que é desinteresse ou pior, desamor. O que não espero, não me faz falta. E assim o preservo pelo que é, sem risco de o perder pelo que jamais poderá ser.
Aceito seu beijo morno, as mãos apressadas, o abraço frouxo. Atendemos ao desejo e acalmamos nossos corpos.
Suporto suas frases vazias, piadas tristes, comentários banais. Falamos sem conversar. Sem risco de ferir.
Não vejo a falta de equilíbrio nas cores de suas roupas nem a falta de brilho no couro ressequido de seus sapatos. Despimo-nos das vestes, mantemos a essência intacta.
Se eu esperar de você mais do que é, não será você quem eu terei ao lado. Procurarei por mim em você. Não estarei ali e o culparei pela minha ausência.
Só peço que também não busque em mim aquilo que não sou.
Agora, apague a luz. Vamos viver nos sonhos o que gostaríamos de ter. Amanhã, ao acordar, mesmo sem lembrar o que sonhamos, estaremos mais descansados para continuarmos como dois que pensam se amar.
Publicado no livro Marias e Clarice, 2020
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