Maria Avelina Fuhro Gastal
Muito antes da data agendada, eu já visitava o passado. Volta e meia me via buscando as lembranças de uma década já tão distante.
O tempo transcorrido borrava minha memória. Não conseguia definir o que eu vivia enquanto Os Almôndegas estouravam nas rádios. Continental, 102.3, era a rádio que eu mais ouvia, mas quem estava comigo nesses momentos?
As lembranças vinham em bloco, abarcavam os meus 16, 17 anos. Nelas estavam quem já partiu, meu irmão e a tão querida, Claudia, amiga de uma vida, mesmo após a morte dela.
Época do primeiro namorado, do primeiro beijo, do primeiro amor, da primeira traição. Primeira vez que parecia que meu mundo tinha desmoronado.
Meu irmão, minha amiga, meu primeiro namorado ocupavam o presente sem que eu tivesse certeza de que eles faziam parte daquele pedaço da minha vida.
Talvez lembrasse daquilo que me marcou ou daqueles que me fazem falta. De qualquer forma, esperava o dia do show como uma adolescente que espera o namorado chegar.
O público do Araújo Vianna era a maioria de jovens como eu. Lá não estavam sessentões de cabelos grisalhos ou pele enrugada. Estavam pessoas com disposição para cantar, aplaudir, ovacionar, pedir bis, mais um bis na esperança de prolongar um tempo que nos conduziu ao passado que ainda se faz presente em nós.
Muitos de nós podem ter se cruzado na vida. Colégio, Baile dos Magrinhos, Sava, Germânia, Barrico, baile de carnaval do Petrópole Tênis Clube, cinemas de rua, sessões da meia noite, em uma Santa Catarina ainda preservada, na SACC, na SAT, nas festas de 15 anos no Clube do Comércio ou no Juvenil, em andanças pela rua da Praia e passeios pela Galeria Malcon. Se sim, não nos reconhecemos. Nossos olhos só enxergam a imagem, não atingem a essência.
Não há passado. Há um tempo que ficou para trás. Carregamos todos os fragmentos que nos compõem, então tudo é presente, enquanto vivermos.
Sem passado, sem futuro. Até mesmo o presente é etéreo. Só temos o agora e aquilo que fazemos dele. Nele cabe nossas expectativas, desejos, sonhos e experiências.
Trazemos em nós vivências compactadas, sentimentos adormecidos. Gatilhos podem liberá-los. Deixar fluir é opção nossa.
O presente está somente em nós, no eterno vai e vem de emoções.
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