Maria Avelina Fuhro Gastal
Janeiro, praticamente, se foi.
O ano envelheceu antes mesmo do Carnaval. Em 29 dias vivemos a alegria, o medo, o terror. Temo pelos próximos 336 dias.
Vivemos sequelas. As históricas, agravadas e perpetuadas nos últimos quatro anos, as sociais, ignoradas nos últimos quatro anos, as culturais, desrespeitadas nos últimos quatro anos. Tantas outras incrementadas nos últimos quatro anos. Quatro anos que, se findaram em 01 de janeiro, permanecerão como ferida aberta por muito tempo.
Ainda procuro o novo normal. Sofro de COVILONGA, um misto do que restou em mim da experiência de ter vivido um desgoverno com cara e práticas de COVIL associada com o tempo de afastamento social e medo de um inimigo oculto e poderoso que podia levar meus afetos ou a mim própria.
Nunca fui de me entrosar fácil. Sempre escolhi os cantos, o silêncio até me sentir segura para me enturmar. Os últimos quatro anos agravaram a situação. Medo de encontrar bolsomínios, medo de topar com o Coronavírus. Sei que a vacina me protege do vírus e, minha perspicácia, dos patriotas. Mas, ainda assim, permaneço em casa. Lugares fechados, cheios de gente, me assustam.
Todos nós estamos tendo que enfrentar um mundo que, se antes conhecido, hoje se apresenta com desafios, até então, negados. O fascismo está entre nós, os povos indígenas vêm sendo massacrados, a milícia tem poder político, em nome de Deus se mata, rouba e persegue, ser mulher, ser negro, ser gay aumenta o risco de morte violenta. E, ainda, temos que tocar a vida, fazendo planos, amar, brincar, sorrir. Tornemo-nos todos um pouco esquizofrênicos. O suficiente para não enlouquecer.
Tudo isso com 39º à sombra. Não dá. Vamos reclamar do calor, xingar o frio, marcar encontros, sentar-se à mesa de um bar ou de um café (espaço aberto e pouca gente, óbvio) e conversar, rir, brincar. Ganhar fôlego para encarar a realidade.
Minha síndrome pós-Covid e pós- “me nego a dizer o nome” manifesta-se por total falta de concentração. Escrevi menos do que queria, li muito menos do que gostaria, embora cada página valha por duas ou três de tantas vezes que tive que voltar pois meu pensamento não estava em mim, andava perdido por aí, sem nenhum controle. Troquei filmes por episódios de séries, ou parte deles, pois nem sempre minha atenção se fixava em pelo menos um. Minha maior produção foi no Candy Crush, atingi o nível 9675, não que deva ser motivo de orgulho. A que ponto cheguei. Ou melhor, a que nível cheguei.
Cada um de nós traz alguma marca dos últimos anos, alguns tornozeleiras. O certo é que, quem diz ter passado incólume, ou mente ou enlouqueceu de vez.
Longe de ser alcóolatra, nem mesmo no auge da pandemia bebi, vou viver o lema dos AA, “um dia de cada vez”, e valorizando a presença de quem estiver por perto.
Se você ainda consegue ler, vou colocar abaixo minhas leituras de 2022. Valeram todo o sacrifício de ir e vir nas páginas.
Mais 24 horas para todos nós pelos próximos 336 dias.
Livros 2022
1. Mulheres, raça e classe - Angela Davis
2. Escravidão - vol I - Laurentino Gomes
3. Anos de chumbo - Chico Buarque de Holanda
4. O maior rio do mundo - Helena Corso
5. A chave da casa - Tatiana Levy
6. Dois rios - Tatiana Levy
7. Vista chinesa - Tatiana Levy
8. Uma sombra logo serás - Osvaldo Soriano
9. Seis propostas para o novo milênio - Italo Calvino
10. 11 abertos e 5 fechados - Cristiano Bernardes
11. O amor de Pedro por João - Tabajara Ruas
12. Escrever - Marguerite Duras
13. 7 aos 40 - João Anzanello Carrascoza
14. Caderno de um ausente - João Anzanello Carrascoza
15. O jogador - Fiodor Dostoievski
16. O sol na cabeça - Giovani Mastins
17. Um defeito de cor - Ana Maria Gonçalves
18. Ana Z. aonde vai você? Marina Colsanti
19. Pequena enciclopédia dos seres comuns - Maria Esther Maciel
29. Mafalda - feminino singular - Quino
30. A cor do amanhecer - Yanick Lahens
31. Com quantos rabinos se faz um Raimundo - Nurit Bensusan
32. Paranoia - Roberto Piva
33. Cartas a uma Negra - Françoise Ega
34. Noites brancas - Fiodor Dostoievski
35. Invenção e memória - Lygia Fagundes Telles
36. Caetano uma biografia - Carlos Eduardo Drummond e Márcio Nolasco
37. Dez centímetros acima do chão - Flávio Cafiero
38. Nós matámos o cão-tinhoso - Luis Bernardo Honwana
39. Nós, mulheres - Rosa Montero
40. Sonhos do meu pai - Barack Obama
41. Em busca de mim - Viola Davis
42. O passado que não passa – Antonio Costa Pinto e Francisco Carlos (organizadores)
43. A casa dos coelhos - Laura Alcoba
44. A vegetariana - Han Kang
45. Nós, as letras - Berenice Sica Lamas e Emerson Falkenberg
46. Casa Velha - Machado de Assis
47. Don Juan (narrado por ele mesmo) - Peter Handke
48. O Capote - Gogol
49. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola - Maya Angelou
50. Sete erros - Ana Luiza Rizzo
51. Vulcana- Adriana Mondadori
52. Um poema por dia - Fátima Farias
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