Maria Avelina Fuhro Gastal
Espalhados pela casa, aquilo que para muitos pode parecer apenas enfeites, têm para mim um motivo específico para estar ali.
Lembranças de viagens, objetos que eram da casa dos meus pais, presentes de amigos, dos filhos e de familiares, desenhos da neta, até mesmo entre as inúmeras plantas, há história de afetos.
Somos um apanhado inacabado de nossas memórias, emoções. Trazemos legados que desconhecemos, mas se impõem em nossas atitudes. Nas lembranças, encontramos refúgio, apagamos o desconfortável ou vergonhoso.
Contamos nossa história em busca de reconhecimento, empatia, compreensão. Aquilo que omitimos, por vezes, nos envergonha ou entristece. Cobrimos a verdade, criamos versões, acreditamos nelas.
Não há história sem segredos. Omitir não os apaga e ainda influenciam nossas ações, sem que percebamos a sua força.
Nossa vida não se encerra nos anos que vivemos. Na bagagem, temos séculos de vivências e deixaremos tantas outras para quem de nós descender. Enfrentar segredos, denunciar abusos, encarar vergonhas, liberta-nos para construir novo legado que rompa com um passado de repetições.
Nos pedacinhos da minha casa, há vozes ancestrais, há mensagens de renovação, há espaço para o passado, há possibilidades para o novo. Tento enfrentar fantasmas para que eles não guiem minhas escolhas. Ignorá-los é alimentá-los, entregar minha vontade ao imponderável.
Se a nossa história não começa nem termina em nós, muito menos a história de um país.
Há uma semana vivemos o luto pela destruição de tantos símbolos que fazem parte da história do Brasil. Negar, desconhecer, omitir, fantasiar o que somos ajuda a fortalecer tentativas de golpe. Precisamos encarar o percurso que nos trouxe até aqui. Admitir erros, enfrentar momentos vergonhosos nos fará avançar. Há muito a reparar. Negar só aumentará a dívida e nos manterá em constante perigo.
A minha, a sua, a história de um povo e de um país têm muitas versões. Talvez jamais se chegue a uma única verdade, mas é essencial que se desmascare as mentiras. Ser oficial, não faz de uma versão a verdade. A realidade sempre nos conta uma outra história. Precisamos encará-la.
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