Maria Avelina Fuhro Gastal
Nada burros nem despreparados. Toscos, perversos, mas estrategistas. Independente do resultado da eleição presidencial, o bolsonarismo se fez vitorioso. A reeleição do atual presidente seria a pá de cal para enterrar por tempo indefinido nossa vivência democrática.
Não acredito que todos que pensam em votar nele sejam fascistas ou antidemocráticos, muitos ainda se movem pelo antipetismo ou por ódio ao Lula. Estão vivendo 2018 sem perceber a gravidade do que aconteceu neste país desde então.
Não mataram a esquerda. Aniquilaram as possibilidades de uma direita moderada, de um centro com tendências à direita ou esquerda. Esquartejaram o debate democrático de ideias e posições. Demonizam os diferentes, mentem para ratificar o perigo de uma ameaça comunista que jamais existiu.
Usurparam nossa nacionalidade. Os brasileiros são eles, nós, somos párias, não amamos nosso país, não honramos nossa bandeira que não mais pertence a todos. Transformaram o verde e amarelo em suástica nacional.
Pautas progressistas são identificadas como desvio moral, ameaça à família, desrespeito a Deus, pacto com Satanás. Não se deixe manipular. Ninguém, muito menos o Estado, pode determinar suas escolhas. Temos o direito de ter nossas opções pessoais respeitadas. O Brasil não tem uma só crença religiosa, tem constituições familiares diversas e isso precisa ser garantido.
Não estamos em 2018. Se não votarmos para dar fim a um projeto de poder da extrema direita, não sei o que restará do país para 2026. Para que possamos reconstruir um debate entre posições ideológicas diferentes, mas democráticas, precisamos vencer a extrema direita. O voto não será em Lula ou no PT. Será em uma frente de partidos e pessoas que já foram adversários políticos, mas que hoje entendem que a defesa da democracia é a única possibilidade de vitória de um povo e de um país.
Eles usam estratégia. A Comandante Nádia retirou a candidatura ao Senado para eleger Mourão. Conseguiram. Garantiram um Senado alinhado, em sua maioria, ao bolsonarismo. Isso não é pouco, é arma poderosa para desestabilizar o Supremo Tribunal Federal. A democracia não está sendo bombardeada por mísseis, mas o terreno vem sendo minado, um passo fora do que eles entendem como aceitável, fará com que a centelha do explosivo seja acionada. Não podemos só assistir como se não fosse conosco. Mesmo com todas as imperfeições do judiciário, o aparelhamento dele aniquila o equilíbrio da democracia. O próximo presidente poderá fazer duas indicações ao Supremo. Executivo, Senado e Judiciário alinhados destroem o sistema de freio e contrapesos, essencial para o controle do poder, sem o qual não há segurança mínima ao cidadão de que os interesses da sociedade estão acima do interesse do mandatário.
Jesus na goiabeira, meninos de azul, meninas de rosa, misoginia, homofobia, racismo, truculência e ameaças à democracia, desmatamento da Amazônia, desmantelamento dos órgãos de fiscalização do meio ambiente, cem anos de sigilo, 51 imóveis comprados com dinheiro vivo, preço dos alimentos, volta ao mapa da fome, negação e desvalorização das pesquisas científicas, descaso para a compra de vacinas contra a Covid-19, setecentos mil mortos na pandemia não foram suficientes para impedir a eleição dos responsáveis. Não posso acreditar que somos um povo insensível. É tudo muito grave para que ele receba, pelo voto popular, permissão para continuar com as atrocidades.
A situação é gravíssima, mas ainda temos tempo de barrar o pior. Depois de 30 de outubro será tarde demais. Tão tarde que não sabemos quanto tempo durará. Não aposte em 2026 se ele for reeleito.
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