Crônica dos esponjais


Maria Avelina Fuhro Gastal

No século XIX, Machado de Assis escreveu “Cantiga de esponsais”. Um conto lindo, narrado em terceira pessoa, tem a música como fio condutor da narrativa.

Machado não tinha computador, internet, máquina de escrever eletrônica nem mesmo elétrica. Máquinas de escrever começaram a ser comercializadas em 1874, provavelmente ele também não possuía uma. Acredito que escrevesse com caneta tinteiro, desenhando cada letra, até transformar a junção delas em obras inesquecíveis.

Como quem nasceu para Ave, jamais chegará a Machado, apresento a vocês minha “Crônica dos esponjais”.

Fosse eu Machado de Assis, teria aproveitado o longo período de isolamento social para escrever contos, crônicas, romances de qualidade. Mas, não. Embora tenha publicado um livro de contos em outubro de 2020, começado uma novela que ainda está nas primeiras páginas e escrito diversas crônicas para a minha página, minha maior dedicação no auge da pandemia foi para a faxina constante e extremada.

Em tempos de internet, logo os algoritmos sacaram a minha fissura e comecei a ser inundada por ofertas de diversos equipamentos para limpeza. Comprei vários.

Um anúncio, à época, chamou a minha atenção. Esponjas mágicas. Logo imaginei os vidros dos boxes brilhando, sem manchas de pingos d’água ou shampoo. E os vidros das janelas, então. Única forma de ter acesso ao mundo externo, precisavam estar limpos, transparentes, como se não existisse nenhuma barreira entre a minha casa e o mundo exterior que parecia tão distante.

Por diversas vezes cliquei no anúncio, estabelecemos uma relação de conquista, ele soube ser persistente, cedi.

Cega pela promessa que atendia meus mais profundos anseios, analisei as opções de compra que me eram oferecidas. No final da listagem, a quantidade com maior valor unitário. Cliquei no pedido, finalizei a compra, paguei e fiquei ansiosa pela chegada das 10 esponjas mágicas que trariam alento para enfrentar aquele período tão devastador.

Sei que sempre tenho a melhor resposta quando já se passou tempo demais para usá-la. Percebi que não só para respostas sou lenta, mas também para refletir e me dar conta das minhas bobagens. Três noites após a compra, pensei que não fazia sentido 10 esponjas terem um valor unitário menor do que 50 esponjas. Abri o celular, busquei o meu pedido e, lá estava. Comprei 100 esponjas mágicas. O prazo para desistência havia se esgotado na noite anterior.

Quem tiver interesse, tenho esponjas mágicas para fornecer. A quem for próximo, oferto como presente, para os demais, faço um preço camarada, mas sem possibilidade de devolução. Interessados, contatem por e-mail, telefone ou no campo de comentários para esse texto.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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