Maria Avelina Fuhro Gastal
Como de costume, o Facebook me lembrou do aniversário de uma amiga.
Não nos conhecemos pessoalmente, apesar de dividirmos o mesmo bairro e termos alguns contatos, bem próximos, em comum. Passamos a ser “amigas de rede social” após ela assistir a uma oficina sobre escrita criativa que ministrei para o VivaClub, em 2020. Tudo on line, estávamos no auge da pandemia.
Desde então, compartilhávamos textos, ideias, comentávamos as postagens uma da outra. Diariamente ela me enviava vídeos para meditação. Confesso que jamais consegui fazer. Já acordo a mil e meditar nem me passa pela cabeça. Quem sabe um dia eu evolua.
Hoje, na página dela, há votos de saúde e alegrias pelo aniversário. Ela não lerá. Faleceu em março. Logo acima das congratulações, há vários depoimentos de despedida.
Pelas redes, nossa vida continua mesmo após a nossa morte.
Antes, permanecia para todos aqueles com projeção social, artística ou contribuição histórica. São, de alguma forma, imortais, para o bem ou para o mal. Nós, simples mortais, permanecíamos na lembrança de amigos e familiares, em fotos esmaecidas, em cartas ou bilhetes trocados com pessoas que, porventura, guardassem a correspondência.
Para o mundo, deixávamos de existir com a nossa morte. Hoje, nossa ausência é presente para os nossos afetos, para o mundo, continuamos vivos em uma página que traz parte de nós, interrompida pela fatalidade, permanente enquanto o algoritmo achar que merecemos estar vivos na rede.
Familiares não excluem o perfil. Eu jamais excluí o da minha mãe. Hoje, pesquisei, e ele não está mais lá. Aparecem apenas as referências ao nome dela que fazemos em nossas publicações. Como podemos excluir quem não queríamos ter perdido? Eutanásia, homicídio, desrespeito? Talvez seja mais uma das formas que encontramos para superar a dor e elaborar o luto. Não queremos matar aquilo que resta de quem morreu. Já basta tudo que temos que reorganizar internamente para prosseguirmos vivos com as ausências que se acumulam.
Passarão inúmeras vezes pelo dia do nosso aniversário, assim como passamos inúmeras vezes pelo dia em que morreremos. Nosso tempo está comprimido entre essas duas datas. Mesmo que as redes nos deem algum período a mais, não estaremos nele. Não somos imortais e só há vida quando vivos.
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