Nós, mulheres


Maria Avelina Fuhro Gastal

Ela não queria mais estar com ele. Se não fosse com ele, ela não estaria com mais ninguém. Com um único movimento, ele atendeu ao desejo dos dois.

Tiro, facada, estrangulamento, surra, não importa. Mulheres são mortas por homens que se julgam seus proprietários. Você acredita estar a salvo? Que bom. Mas, tenha certeza de que, bem próximo a você, uma mulher pode estar muito perto de ser assassinada, pois o nosso estado é o terceiro em número de feminicídios em 2020. Feminicídio, sim. Não é um homicídio qualquer. É a tipificação de um crime cometido contra nós pelo simples fato de sermos mulheres.

Talvez você ainda ache que não tem nada a ver com isso. Talvez nenhuma mulher perto de você foi ou venha a ser vítima de feminicídio. Mas você pode realmente afirmar que não conhece nenhuma mulher que tenha sofrido violência, social ou doméstica? O local de maior risco para as mulheres são as suas casas ou as dos namorados.

Continua pensando que isso é problema de mulheres fracas, de pouca instrução ou baixo nível social? Lembre-se que a violência não é só física. Ela pode ser moral e psicológica também. Não sou fraca, tenho ótima instrução, sempre pertenci à classe média e vivi um relacionamento abusivo. Por anos. Naquela época, procurei ajuda, e a primeira coisa que disse à terapeuta foi que eu me sentia um rato. Não lembro mais desse sentimento, nem imagino me sentir um rato agora, mas era assim. Pensem de quanto tempo um rato precisa para voltar a se ver como mulher e transformar a sua vida.

Se sou feminista? Venho tentando ser. Escorreguei muitas vezes. Fiz diferenças entre meus filhos em função do gênero. E olha que eu me revoltava quando meus pais faziam isso. Cheguei a questionar o termo feminicídio. Pensei como mais uma forma menor de tratar a mulher. Mudei. Estou mudando. Precisamos sim ter números que denunciem a violência contra nós. Quero ser cada vez mais feminista. Não tem a ver com depilação, batom, rímel ou soutien. Essas questões cada uma vive como quiser. Tem a ver com respeito, luta por igualdade, por dignidade.

O dia de hoje, 8 de março, não é uma data de comemorações. Não é para sermos homenageadas ou recebermos flores. É uma data de denúncia, de luta, que precisa ser valorizada por cada uma de nós, ou por cada homem que respeita as mulheres, até que não seja mais necessária a existência dela.

Como muitos de vocês, eu quero um mundo sem Dia da Mulher, sem Dia da Consciência Negra, sem Dia do Índio, sem cotas. Mas enquanto não tivermos justiça social, respeito aos direitos humanos, igualdade de condições no acesso à educação de qualidade, distribuição de renda justa, vou brigar como louca pelo feminismo, pelo antirracismo, por justiça e por igualdade social.

Qualquer ato que fira a outro ser humano, tem que ser um ato repudiado por todas e todos nós.



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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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