Maria Avelina Fuhro Gastal
A primeira noite foi em 6 de dezembro. As horas piscando no aparelho da TV a cabo e eu calculando o que ainda me restava de tempo de sono. Impossível parar. Madrugada adentro e eu extasiada.
No dia seguinte, minha cervical doía, meu músculo do braço esquerdo ardia e o meu trapézio era um único nó. Mesmo assim, encarei a noite. Troquei de posição e me deixei levar. Paguei o preço. Na quarta-feira, quase travada, me convenci que era melhor aproveitar os intervalos do meu dia do que horas seguidas durante a noite. E assim foi de quarta à sexta-feira, em qualquer momento, em todos os intervalos, existentes ou criados.
Em 10 de dezembro, acabou. Valeram todas as horas e todos os minutos que dediquei à leitura da biografia de Lula, Volume 1, escrita por Fernando Morais, e lançada pela Companhia da Letras.
São 423 páginas, inúmeras fotos, que deveriam ser lidas e vistas por todos, até por aqueles que defendem o voto “em qualquer um, menos no Lula”. O livro resgata a história da luta sindical em um país sob ditadura militar, as irregularidades cometidas por Moro, e cúmplices, e sua imparcialidade, o papel dos veículos de imprensa na desconstrução da figura do Lula e do Partido dos Trabalhadores.
Lula não é endeusado. É apresentado com contradições inerentes a todos nós, pelo menos àqueles que são humanos. Simpatia pelo Golpe de 64 aos 19 anos de idade, aversão ao mundo político, timidez excessiva no trato com as mulheres e posterior comportamento “galinha” após o luto pela perda da primeira esposa no trabalho de parto e do filho que nasceu morto.
A história de retirante pobre é contada para contextualizar as dificuldades vividas pela família e reconhecer a força da matriarca, Dona Lindu, que implantou na família a distribuição de renda pela necessidade e não por meritocracia.
Não podemos mais viver em um país que se esforça para apagar a história, negar atrocidades cometidas na ditadura. Sem encarar nosso passado, não avançaremos. Tropeçamos em cadáveres dos povos originários, do povo escravizado, de inúmeros torturados e de vítimas de milicianos e garimpeiros.
O livro traz os fatos, mostra a força de pessoas simples que se organizaram para enfrentar a exploração. Na página 312 conta a vitória de um movimento de mulheres que trabalhavam na Resil, fábrica de autopeças de Diadema. Os relatos vão nos lembrando que é possível enfrentar poderosos e que em algum momento recente da nossa história encontramos voz para nos opormos ao absurdo.
Em tempos de internet, fake News, memes e orçamento secreto, buscar informações em publicações sérias nos ajuda a entender a importância do nosso voto.
Não se assustem com o número de páginas, a leitura flui. Só não levem o livro para a cama, o peso da publicação cobra seu preço no dia seguinte em todos os seus músculos superiores. Leiam, não para que votem nele, mas para que não votem em qualquer um. Dá no que deu.
O volume 2 já está sendo escrito. Nele estarão as campanhas eleitorais para a presidência e os dois mandatos presidenciais. É história, é um país em movimento. Já quero ler.
Mas tenho uma confissão a fazer. Espero que no próximo volume seja incluída a foto que viralizou mostrando as coxas do Lula. Nós merecemos. Tem presidente atleta que deve estar se remoendo de inveja.
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