Maria Avelina Fuhro Gastal
Texto produzido para a oficina de literatura infantil com Caio Riter e Elaine Maritza - 2017
Tobaldo mora na praia.
Ele e os amigos brincam espalhando as espumas das ondas com as nadadeiras, cavocando a areia com o nariz ou se escondendo nas pedras que existem por ali.
Mas em dia de muito sol, Tobaldo brinca pouco, anda de cabeça baixa e não tem muita vontade de rir. Os amigos não entendem. Como é que alguém parece triste com um solzão que é um enorme sorriso, um convite para diversão?
Tobaldo sacode o casco e nem responde aos amigos. Mas eles insistem e Tobaldo desabafa:
─ Tenho uma vontade que não desgruda de mim. Quero muito deitar sob o sol para esquentar a barriga.
Os amigos se olharam com os olhos arregalados, alguns levaram às nadadeiras à boca. Todos já tinham ouvido os mais velhos dizerem para NUNCA virarem de barriga para cima. É muito perigoso!
Tobaldo baixou a cabeça e um suspiro comprido fez até o sol fechar o sorriso. Dois amigos se aproximaram e encostaram a cabeça no casco de Tobaldo. Outros olharam para o sol, para as suas barrigas e suspiraram também.
Tobaldo não tinha lugar para outra vontade. Nem dormindo a vontade ia embora. De que adiantava morar na praia, ter toda a areia para deitar, se não podia deitar como queria para esquentar a barriga?
Conta daqui, conta dali todos ficaram sabendo da vontade de Tobaldo. Os mais velhos franziram a cara. Precisavam fazer algo antes que uma tragédia acontecesse. Reuniram os mais jovens, convocaram Tobaldo, e, em uma assembleia, apresentaram gráficos e argumentos para tirar da cabeça dos mais afoitos a ideia maluca de deitar de barriga para cima.
Senhores falavam com a voz empolada e com gestos dramáticos. As senhoras cruzavam as mãos em prece. Os jovens ouviam com olhos arregalados que, às vezes, procuravam os olhos dos amigos. Franziam as sobrancelhas e arriscavam uma balançada de dúvida com a cabeça.
No finalzinho da assembleia, Tobaldo levantou a nadadeira. Os olhares voltaram-se para ele. Tobaldo ergueu bem sua cabeça e perguntou:
─ Algum de vocês já tentou ou conhece alguém que tenha tentado esquentar a barriga no sol?
Pigarreia daqui, coça a cabeça dali, mas, de fato, não sabiam de alguém que tivesse tentado.
─ Então, disse Tobaldo, ninguém tem certeza de que é impossível.
Pronto! De repente a vontade de Tobaldo estava na cabeça de todos.
Em dias de sol sorridente, podia-se ver até mesmo os mais velhos, mirando o sol e acariciando a barriga. Tobaldo já não se sentia só na sua vontade. Podia falar com todos sobre ela.
Alguns tomaram coragem. Procuraram Tobaldo e, juntos, armaram uma estratégia para não correr o risco de não conseguir virar de volta. Depois de bem planejado, Tobaldo foi o primeiro a sentir o sol na barriga. Enquanto abria um sorrisão, todos na volta o aplaudiam. Só pararam quando ele fez o sinal combinado. Diversas cabecinhas, umas jovens outras mais velhas, enfiaram-se entre o casco de Tobaldo e a areia, embalaram e, bumba, lá estava ele de volta com a barriga para baixo.
Desde aquele dia, equipes aproveitam os dias de sol para o revezamento de esquenta barriga. Tobaldo organiza os grupos. De barriga quente, outros sonhos começam a ser discutido entre eles, conhecer a neve, viajar pelo mundo, subir na garupa de um cavalo. Os mais velhos começam a traçar novos gráficos e tabelas analisando a relação entre barriga quente e sonhos que eles temiam.
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